sábado, 7 de janeiro de 2012

Apontamentos de leitura


Ficou na retina...

"Eis a minha pergunta: Que idade temos quando estamos no Céu? Quero dizer, se estamos a falar do Céu, devemos estar no nosso auge de beleza, e duvido que toda a gente que morre de velhice ande de um lado para  o outro desdentada e careca. Isso também abre caminho para o reino adicional de perguntas. Se nos enforcamos, será que andamos por aí  todos azuis com um aspecto nojento, de língua de fora? Se formos mortos numa guerra, será que passamos a eternidade sem a perna que explodiu devido a uma mina?
Acho que talvez possamos escolher. Preenchemos o formulário que nos pergunta se queremos ver as estrelas ou as nivens, se queremos frango, ou peixe, ou maná para o jantar, com que idade gostaríamos de ser vistos pelo resto das pessoas. Eu, por exemplo, talvez escolhesse dezassete anos, na esperança de que por essa altura já me tenham crescido as mamas, e mesmo que seja uma centenária engelhada quando morrer, no Céu seria jovem e bonita.
Uma vez, num jantar de festa, ouvi o meu pai dizer que mesmo que fosse velho, velho, velho, dentro do seu coração teria vinte e um anos. Portanto talvez exista um lugar na nossa vida que gastamos como um sulco, ou, melhor ainda, como o lugar mais macio do sofá. E, independentemente do que nos aconteça, voltamos sempre lá.
O problema, suponho eu, é que todos nnós somos diferentes. O que acontecerá no Céu quando todas estas pessoas estão a  tentar encontrar-se uma às outras após terem passado tantos anos separadas? Digamos que morremos e começamos a procurar o nosso marido, que morreu há cinco anos. E se imaginamos aos setenta, mas ele preferiu os dezasseis e anda por aí mais ligeiro do que nunca?
E se formos a Kate, e morrermos aos dezasseis anos, mas no Céu escolhermos ter trinta e cinco, uma idade que nunca chegámos a ter aqui na Terra? Como é que alguém seria capaz de nos encontrar?"

- Jodi Picoult, "Para a minha irmã"

7 comentários:

  1. Adorei... Esta é daquelas perguntas filosóicas para as quais é muito dificil encontrar respostas.

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  2. olá. Quando penso nos mortos, no céu, a minha cabeça pensa no Paraíso. Não sei se existe, mas ás vezes penso que sim. Lembras-te da novela brasileira, " A viagem " que mostrava o Paraíso e o Inferno. Pois, quando penso no Paraíso, é também por causa da novela, onde mostrava a vida depois da morte. Por vezes, acredito que depois de morrermos, existe uma nova vida. beijos e um bom fim de semana.

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  3. Genial esta ideia, nunca havia pensado nisto.

    Um sério risco este de se escolher a idade.
    Também não se escolher, poderia ser uma perda de oportunidade para a juventude eterna.
    Dilema insolúvel.

    Essência dê um pulinho no Retalhos e vê o que você acha do destino que dei à sua palavra, pode me puxar a orelha se não gostar.

    Beijos!

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  4. Realmente essa é uma passagem que dá que pensar...até eu própria já pensei nisso mas não cheguei a nenhuma conclusão =/

    Beijinho*

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  5. Olá....
    Vim através da Van conhecer seu cantinho....Adorei! Lindo post...Linda reflexão! Uma pergunta que nunca tinha me feito ainda....
    Beijos!
    San....

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  6. Talvez o erro esteja em criarmos uma imagem do "céu" à imagem terrena!
    Transportamos para a imagem do "céu" as "maleitas" terrenas! :)

    beijo
    Sutra

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  7. Quer-me parecer que vou mesmo ter que ler um livro desta autora... ando a adiar, mas gostei deste pequeno apontamento!

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