segunda-feira, 13 de outubro de 2014

É sempre depois da morte que se reflecte e vem os ses e meios ses...

Quando morre alguém, independentemente se nos é próximo ou não, é qualquer coisa de devastador. Fica um vazio, um sentimento de nostalgia no ar. Depois, quando vamos esmiuçar, põe-se na balança: se nos é próximo, os sentimentos aumentam e acentuam, se não nos é próximo, é algo ténue, mas sente-se, é o que basta na soma de tudo.

Morreu o actor Rodrigo Menezes. Não conheci pessoalmente, mas talvez por entrar na minha casa, através da televisão, ficou uma pessoa familiar. Quando soube da notícia, senti uma ligeira tristeza. Depois de assimilar a notícia pensei: bolas, a vida é uma droga. Hoje estamos bem, o amanhã, é uma incógnita... Inevitavelmente questionamos uma série de coisas quando nos deparamos com tal noticia, a morte de alguém. Mas uma coisa é questionarmos a morte em si, outra, bem diferente, é questionarmos o porquê dessa morte e mais!, questionar as atitudes que tivemos para com essa pessoa. O se isto e o se aquilo, vem à baila, como um carrossel. Sinceramente? Irrita-me tal postura. Irrita-me tal hipocrisia. Irrita-me. Porque não é quando a pessoa não está mais cá que adianta lamentar, não adianta, ponto. Nós precisamos quando estamos vivos. Quando estamos a viver, a sentir e tudo o que esta vida nos permite ter. Ora, quando morremos, é outro mundo totalmente desconhecido em que os ses não fazem mais parte, assim como nem os sentimentos de culpa e de impotência. As atitudes, os gestos, as palavras, são para serem usadas no agora, não no amanhã.

Ontem estava a ler uma revista onde vinha duas páginas do velório do Rodrigo Menezes. Vinha alguns relatos de amigos e, num desses relatos, vinha um que me fez fazer este post.
Relato: "como amigo, tenho pena, fico triste e tenho a minha cota-culpa. Pergunto-me porque é que eu não lhe liguei antes? Talvez uma chamada minha ou de outra pessoa fizesse bem. Quando morre alguém que nos diz muito, temos sempre um sentimento de culpa e, se calhar, eu podia ter feito alguma coisa. É isso que me deixa triste." - Obviamente que cada um sabe de si, da sua vida e dos seus afazeres... Obviamente que depois do mal estar feito, não adianta chorar o leite derramado... Obviamente que, quando nos deparamos com os factos é que temos noção do que temos à volta e o que nos escapou... Mas aí, aí já é tarde! Os ses e meios ses nestas situações, dissipam-se como pó, pois é assim que ficamos quando vamos para debaixo da terra.

Parar um pouco do nosso dia-a-dia, sem haver tragédias e outras coisas que tais como protagonista e olhar para o lado, tiramos assim tanto tempo do nosso tempo?

2 comentários:

  1. É precisamente pela pergunta que fazes no fim do texto que respondo que ainda bem que vivo o meu tempo por cá com poucos arrependimentos.
    Mimos ;)

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  2. É por essas e outras que não tenho hora marcada para manifestar o que sinto a quem quero bem:) é sempre que me apetece, porque sim, porque não sei se estou por aqui amanhã e não quero deixar dúvidas.:)

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