quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Inexplicável sentimento em mim


Como costumo dizer, os meus pais moram num mundo à parte da realidade. Onde a serra, o verde, o cheiro de eucalipto, pinhas, sossego, ar puro e tranquilidade, são palavras de ordem por aquelas bandas. E de facto, são muito patentes cada uma delas, sem dúvida! No entanto, como em tudo, há sempre um senão. Ora bem, se fosse diferente estranharia-se. Pois que é um sítio, onde todas as pessoas se conhecem para lá de trinta e muitos anos... muita cusquice, bedelhice, disse-que-me-disse, são ingredientes imprescindíveis por ali. Tudo se sabe. Ficção, realidade, é uma dualidade estonteante. Contudo é um facto.

Sempre tive uma infância muito livre. Onde as brincadeiras "rurais" predominavam. Nomeadamente, o jogo do elástico, macaca, cabra-cega, lencinho, mata, toque-e-foge, escondidas, berlinde, prego, sirumba, entre outras tantas que tais... efectivamente, brincava-se! Efectivamente convivia-se! Efectivamente éramos crianças que desfrutávamos da liberdade dada! Fui extremamente arisca, Maria-rapaz, mas sabia-me pela vida aquele universo tão meu, tão nosso, naquele sítio, mundo tão fechado. Quase como uma redoma.

Os tempos mudaram. As crianças que agora lá vivem têm outra perspectiva, postura. Dão valor a outro tipo de brincadeiras. As tais "rurais", já era! Agora o que impera, é a "actualidade"! Ora pois que os tempos são outros e esta sociedade exige que os pais e até as crianças acompanhem esta evolução. Andamos a passos largos, verdade se diga. Aqui não se pode coxear, andar mais devagar, nem nada que se pareça. Porque rapidamente somos atropelados sem dó nem piedade. Porque fugimos do patrão. (E muito tinha o que escrever, mas ficou-me por aqui para não fugir ao foco que quero dar ao post. Fica para outras núpcias...)
Depois, há mais informação. O que cria um misto de curiosidade, com medo do que nos é posto em frente aos olhos. Os acontecimentos por este mundo a fora...
Ora que na minha altura, andar livre e solta na rua, nos dias que correm, é quase impensável.
Sou da altura que a chave encontrava-se na parte de fora, e não na parte de dentro. Era o bater e automaticamente entrar, com um "oh de casa!" - Hoje é quase anedota tal situação. Pois os riscos são tremendos. As notícias de roubo, violência, rapto, pedofilia são realidade escancarada. O que antigamente era posto debaixo do tapete, hoje está bem explorado pelos órgãos de comunicação social. E bem!
Por tudo isto, tenho medo de deixar a minha Zunfinha andar livre e solta. Mas por outro lado, tenho imensa pena que ela não saiba verdadeiramente o que é ser-se livre. Brincar sem medos. Estar até às tantas da noite na rua com os amigos. Não vai saber com muita pena minha. Porque eu sei o que isso é! Sei o gozo que isso dava... (nostalgia latente em mim...)

Por estes dias, fui desfrutar desses espaços verdes que tenho o privilégio de ter acesso. Juntamente com a minha Zunfinha, uma sobrinha e a minha mãe, demos algumas voltas por determinado circuito, e quando estávamos a voltar para casa, eu ia com a minha mãe e, as duas meninas iam mais à frente a apanhar flores e a cantarolar. Às tantas, um carro pára junto delas. Avisto de longe. Consigo perceber quem era. Um "conhecido" de meros bons dias/boas tardes/boas noites. Um senhor na casa dos cinquenta e muitos anos, que se encontra reformado a alguns anos, por causa de uma deficiência numa perna. Diz-se as más línguas, que é um senhor que só está bem rodeado de gente miúda. Filhos alheios vá.
Estas informações entram de rompante na minha mente. Um nó se instalou. Uma angustia inexplicável invadiu-me.
Começo a chamar a Zunfinha, ela não estava a ouvir. O carro já estava parado uns 2 a 3 minutos junto delas. Grito mais alto pelo nome dela. Ela ouve e vem a correr ter comigo, juntamente com a minha sobrinha. O fulano apercebe-se que eu/nós estávamos ali próximo. Arranca com o carro.
Pergunto-lhe o que o senhor queria? Ela imediatamente responde-me que o senhor simpático perguntou se elas não queriam entrar no carro e ir com ele a casa do mesmo, pois ele tinha chocolates em casa e queria lhes dar. O meu coração parou! Mil e uma questão invadiu-me a mente. Como por exemplo, "se elas estivessem ali sozinhas por alguma razão." - Nem quero imaginar sequer...
Deixo a minha mãe em casa com as miúdas, e vou à casa do fulano. Estonteante, fica a umas 4 casas da casa dos meus pais.
Bato à porta do homem, assim que ele abre, digo-lhe que tinha sido a primeira e última vez que ele abordava a minha filha. Não tinha gostado nada da dita abordagem, e não via fundamento sequer para tal postura. Diz-me muito atrapalhado que não tinha feito por mal. Disse também que gostava de se dar com a juventude. Repostei que continuava a não perceber, o que um homem da idade dele, tinha para conviver com uma criança de 5 anos e outra de 8 anos. Em suma, deixei bem claro o meu profundo desagrado e que ia ficar atenta. E estou, muito atenta! Tanto que vou aprofundar mais esses zuns-zuns, e perceber efectivamente qual é a do fulano. Não estou descansada. Até porque ele mora relativamente perto dos meus pais. Por vezes, deixo a minha filha lá. Mesmo que ela não vá brincar para a rua, às vezes fica ali à frente de casa com os primos. E, se ele fez esta abordagem, é porque já andava de olho (digo eu). Não contava é que elas estavam acompanhadas (já estou com os meus filmes).
Por breves segundos senti um medo enorme. E só tive uma situação de abordagem. No entanto, sinto algo estranho no comportamento desse fulano. Sexto sentido, o que se quiser rotular. Mas sem dúvida, que tudo isto me é estranho, principalmente quando ponho-me a reflectir. A abordagem em si. O que usou para tentar aliciar as crianças. O comportamento de ir embora sem esperar pela mãe e explicar a situação provocada. A reacção que teve depois de ser confrontado, assim como a explicação que deu... enfim, de uma certeza tenho, não vou ficar descansada enquanto não dissipar todas as dúvidas, e desmantelar as mesmas. Assim como todos estes meandros a que o mesmo está (supostamente), envolvido. E, já comecei a mexer-me.

Escolheu a criança errada.

27 comentários:

  1. Olá..vim espreitar o blog e fiquei parva com esta situação :S..ao ponto que chegámos..acho que fazes mt bem em estar preocupada pk com uma abordagem dessas...e ter fugido...so pode ser culpado. Fica alerta e chama as autoridades, se for o caso..bjs*

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  2. É pena que assim seja mas tem de ser!

    E acho que no fundo estas situações sempre aconteceram, se ouve fulanos assim, as pessoas é que não pensavam tanto nisto!

    Fazes muito bem estar em cima! Eu faria o mesmo!

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  3. Quando envolve os nossos filhos virámos feras! Abençoada mãe que tu és!Esse fulano, se não tinha nada a temer esperava pela mãe e pela avó, se queria dar chocolates às crianças porque gosta de se relacionar( no bom sentido) com crianças, não precisava de as levar sozinhas para casa dele.
    Não fiques descansada, eu tb não ficaria.
    Coragem.
    Muitos Beijinhos

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  4. A realidade é esta mas custa-me tanto aceitá-la...fazes bem, escarafuncha ai o homem e não deixes nada por descobrir...a Zunfinha agradece, o teu dscanso mental também, o teu coração de mãe irá sossegar e quem sabe, algumas outras crianças também se sentirão agradecidas. É surreal...não consigo imaginar o aperto doo teu coração, sou franca! E espero que rapidamente este assunto te traga paz!
    Beijocas nossas ;)

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  5. Ainda bem que a tua criança está preparada para esse tipo de situações, que podem ser perigosas. Também tive esse tipo de infância… brincava na rua com os vizinhos, na boa, sem preocupações ou medos. Hoje está tudo mudado e para bem pior.

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  6. É, no mínimo, um comportamento suspeito.

    Neste momento o importante é estares atenta e, sem grandes valorizações, ter uma conversa com a Zunfinha sobre o comportamento que há-de adoptar quando for abordada.

    Beijo

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  7. Está atenta. Com a Zunfinha o teu comportamento deve ser o mesmo de sempre.
    Tiveste uma atitude correcta e corajosa.
    Bosn tempos os nossos.

    :)

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  8. Enquanto uns saão sacaninhas... outros há que são uns sacanas!!! Ainda que se trate de suspeitas, no teu lugar, não conceberia outra atitude senão a que tu tiveste!!

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  9. Enquanto uns saão sacaninhas... outros há que são uns sacanas!!! Ainda que se trate de suspeitas, no teu lugar, não conceberia outra atitude senão a que tu tiveste!!

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  10. Hoje em dia todo o cuidado é pouco infelizmente, e tal como tu também ficaria super preocupada, porque realmente é muito suspeito e por mais que os pais aconselhem os filhos para estas situações, as crianças apanhando-se sozinhas podem agir de outra forma e até acreditar mesmo na "boa fé" do fulano!!.
    Eu também brinquei muito ao ar livre, eram outros tempos...
    Beijos:)

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  11. No que toca às minhas crias,viro leoa, sou capaz de matar. É verdade que não existem sítios perfeitos.Nasci numa pequena vila com todas as brincadeiras a que tive direito, como tu tão bem descreves, e lamento que osmeus filhotes não tenham o mesmo tipo de infância. A realidade mudou, é um facto. Fazes muito bem em te certificares, porque toda a prudência é pouca no que toca a este tipo de predadores. São pessoas, quase sempre, consideradas ótimas pessoas,mas têm dupla personalidade. Espero que só aconteçam coisas boas a ti e familia,mas continua atentíssima. Não é para alarmar, mas uma amiga, descobriu que o marido da ama da filha de 5 anos a andava a molestar e ela sente-se culpada, mas porquê? Ela não sabia. Mas, as mães sãomuito protetoras e se algo escapa do seu controle pensam que é por culpa delas e não das pessoas doentes, autoras de tais atos inqualificáveis. A minha solidariedade para contigo.

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  12. Creio que são as vicissitudes dos tempos modernos, tanto ao nível da falta de liberdade das crianças, como dos próprios predadores que por aí andam que parecem aumentar a olhos vistos! O melhor mesmo é fazer queixa para o enquadrar junto das autoridades.

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  13. hoje em dia não se pode confiar em ninguém....

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  14. já chegou às zonas rurais a incerteza a insegurança dos pais, infelizmente hoje em dia uma reacçao singela pode provocar na mente humana um descarrilar de ouras situaçoes por nós sabidas. pode até o senhor nao ter tido maldade e ainda viver no tempo emqque se oferecia um chocolate sem malícia , ams só que os tempos mudaram,a insegurança cresceu a maldade tb
    kis :=(

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  15. :( que situação terrível! nem quero imaginar como o teu coração de mãe se sentiu:(
    Um beijinho

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  16. Identifiquei-me imenso com a parte inicial deste post. O meio onde vivo, as brincadeiras da minha infância, enfim outro tempos. Eu devo ser mais nova que tu A Minha Essência, mas ainda apanhei esses tempos em que os miúdos podiam andar na rua sem qualquer preocupação, que se podiam divertir até às tantas, era outra liberdade :) Bons tempos de facto, hoje em dia os miúdos acabam mais tempo em casa que na rua, isto porque como disseste bem os tempos mudaram, as preocupações e os perigos também. A própria sociedade mudou de uma forma assustadora.
    E o que nos contas é realmente estranho em relação ao que se passou com a tua filha e sobrinha. Temos de ter cuidado, existe muita gente por aí que não são de confiança, mas verdade seja dita que não podemos julgar aqueles que não conhecemos.

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  17. Credo.
    Já muita calma tiveste tu. Se eu estivesse no teu lugar acho que lhe batia. A sério que sim.

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  18. numa situação destas eu só tinha uma atitude... (sem olhar atrás).

    perante os factos vistos, a suspeição passava, de imediato, para a queixa nas autoridades e, à "exigência" de as mesmas atuarem com a investigação (atempada).




    a...té

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  19. Que tristeza...Dá-me um nojo esse tipo de gente...Que repugnante! Aquilo não foi certamente querer dar-se com gente jovem, mas isso nem eu te preciso de dizer!!! E pensava eu que nesses sítios assim mais isolados, as crianças ainda tinham direito às brincadeiras que tu, eu, e tantas outras pessoas tiveram acesso...No fim, até nos meios mais rurais à pessoas más...Fazes bem em proteger a tua menina, espero que lhe faças a vida (ou a consciência) negra ;)

    Beijinho*

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  20. Ai bolas.. eu acho que se fosse comigo, passava-me ainda mais !!
    Realmente, dar-se com a juventude.... só ao murro :S
    Mesmo, mantém-te atenta!

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  21. É incrivel como tivemos uma infância feliz e despreocupada.Eu não sei se me controlava, juro que não sei.

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  22. fazes muito bem em protegê-la, toma medidas e vais ver que não passou de um susto. pessoas assim não merecem nada, deviam era estar impedidas de contactar com outras .

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  23. fazes muito bem em protegê-la, toma medidas e vais ver que não passou de um susto. pessoas assim não merecem nada, deviam era estar impedidas de contactar com outras .

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  24. Oh que grande besta, e sim oferecer doces chocolates etc é normalmente a forma que esses bichos nojentos usam para aliciar as crianças.
    Mexe-te Essência, não só pela tua Zunfinha, mas também por outras crianças que estejam a mão desse homem horroroso.

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  25. Ao ler este post gelei, por completo.
    Aposto que o dito sr pensará mais que uma vez em falar mais com a sua filha, mas tb outra coisa não seria de esperar.
    Infelizmente temos de ter cuidado, mesmo muito. Por essa razão quando me apelidam de mãe galinha, ou o célebre aí que tu não deixas as crianças respirar (com 5 anos e 16 meses), por querer saber tudo em relação a eles, mando essas pessoas irem dar uma volta no sítio onde Judas perdeu as botas para arejarem ideias.
    Força e parabéns mãe pela sua atitude.
    Nany

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  26. Sem a suspeita se confirma... eu proponho "colhões fora"... :/

    Alguém tem outra ideia?!

    beijo
    Sutra

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