Saudade

Bateu-me uma nostalgia da minha infância que até dói.

Saudades de brincar livremente pelo meu bairro sem medos, sem opressão por parte dos meus pais. Saudades de brincar as brincadeiras dos meninos, como o berlinde, de fazer cabanas e pendurar-me nas árvores. Saber que muitas vezes era a única menina que alinhava nas brincadeiras deles, mas não me importava! Eu sabia que tinha pêlo na venta, com este ginete só meu, que me é tão peculiar até hoje. Saudades, de andar com os cabelos soltos ao vento e sentir o cheiro de liberdade de uma menina que só pensava dia e noite em brincadeira. Como é bom essa sensação. Saudades, de ir tirar fruta às madres. Sentir a adrenalina nas veias do mal que sabíamos que fazíamos, mas que nos era tão inocente ao mesmo tempo aquele acto. A fruta comida tinha o sabor da vida com mistura a traquinice. Saudades dos banhos de tanque que para nós era como se fosse banhos de jacuzzi. Saudades das saídas à noite para a rua naquele bairro cheio de vida! Cheio de pessoas que partilhavam aventuras, descobertas, sonhos e tudo o que os adolescentes almejam. Saudades dos Verões, com namoricos, com zangas, com saídas em grupo, com tudo inerente a um Verão em cheio no meio de sonhadores. Saudades das mentiras pregadas aos pais, das saídas pela janela. Saudades, saudades de tantas e tantas lembranças que as guardo aqui, com a certeza porém,  que jamais serão esquecidas.