domingo, 14 de junho de 2009

A ida ao hospital

Finalmente consegui ir visitar a minha Aldinha. Senti uma alegria muito grande em ver que, apesar de tudo, se encontra bem, ou dentro dos possíveis...
Tem dores, claro, devido à operação, mas só o facto de ver e sentir as pessoas ao seu redor, os seus olhinhos enchem-se de alegria.
Assim que me viu, por breves instantes, reconheceu-me. Disse, "já chegaste minha bis, demoraste tanto! E deu aquele sorriso lindo e sincero de alguém que nos ama e nos quer bem." -  Claro que fiquei extremamente feliz!
Segundo as vizinhas de quarto, a minha avó estava mais faladora que nunca. Falou de Angola, de episódios passados, lembrou-se do meu avô, do meu pai, da minha mãe em novos! Comeu muito. Estava com bastante apetite. Houve uma altura em que a minha filha entrou no quarto, estava eu com a minha irmã S junto da minha avó, e a minha filha ao ver a bisavó comer também quis e pediu um queque. Pois a minha avó também reconheceu a bisneta! Virou-se para a minha irmã e disse-lhe: "A Zunfinha é muito bonita, não é?" (Outro momento de lucidez) É pena ser tão pouco tempo...
Achei piada que quando entrámos no quarto, e as senhoras que acompanham a minha avó assim que ouviram o meu nome disseram logo: "Ai menina, deixe olhar bem para si! Nós nunca a vimos, mas só da sua avó estar os dias todos a chamar e a falar de si é como se a conhecêssemos!" - Achei um piadão às senhoras. O tempo que passei lá soube a pouco. Custou-me muito vê-la deitada na cama, com as dores da operação, muito magrinha, mal ouve, mal reconhece as pessoas. A preocupação dela numa dada altura da conversa era se ela tinha sido minha amiga. Depois mexia na cara e dizia que estava cheia de rugas. As mãos têm artroses. Ela que foi sempre uma mulher que gostava de se cuidar. Andava sempre pintada e arranjada em casa. Até para ir ao lixo! O que a velhice, as maleitas nos fazem e nos transformam.
Antes de ir embora, há uma altura em que ela se vira para mim e diz: "A minha Essência quando chegar vai levar duas palmadas naquele rabo". Eu com uma vontade de me rir pergunto-lhe: "Porquê vó?!" Ela muito séria: "Porque eu tinha-lhe dito para não sair daqui e ela saiu! Quando chegar vai ver."
Quando saí, ainda no corredor, ouvi-a chamar, "Essênciaaaaaaa...." (tive tanta vontade de voltar para trás, tal o meu coração ficou apertado).
No dia a seguir quando liguei para saber como ela estava e para avisar que no Sábado ia vê-la, a minha tia conta-me que desde a minha saída a minha avó ficou muito excitada. Não comeu, não dormiu a noite toda. Arrancou a sonda, quis se levantar. Só chamava o meu nome, um stress. No dia a seguir tiveram de lhe dar um calmante para ela descansar. Dormiu o dia todo. Hoje (Sábado), já estava mais calma. Já comeu bem. Sentaram-na no cadeirão. Estava mais relaxada... quando falei com a minha tia, ela sugeriu que eu não fosse no Sábado, porque tinha medo que se repetisse tudo novamente, mas deixou-me à vontade para decidir. Claro que lhe disse que para mim o importante era que ela ficasse bem independentemente de tudo o resto. Ir e ela ficar pior, não fazia sentido!
Afinal a ânsia de me ver, a alegria e tudo mais estava a ter repercussões negativas e isso eu não quero.
Obviamente que fiquei e estou triste, porque queria vê-la, falar e estar com ela, mas se o facto de ela estar calma e serena implica a minha ausência, que assim seja! O importante, é que ela fique boa e se recupere depressa, o resto logo se vê.
O que desejo e peço sempre a Deus é que corra tudo bem e que ela viva mais uns bons aninhos. Porque o medo de a perder é inevitável, infelizmente. Tenho, temos consciência que esse dia mais tarde ou mais cedo vai chegar, como a todos nós, mas é muito triste e doloroso pensar sequer nessa hipótese.
O importante neste momento é viver o "agora".  Estar a recuperar e vai ficar boa. Se depender das minhas preces, já está curada.

Avozinha querida, põe-te boa logo, estamos todos à tua espera!
Amamos-te muito (aqui)!!

1 comentário:

  1. Não deve ser á toa a tua avó de todas as neta se lembrar só de ti! Porque és mesmo muito especial, meiga. E ela deve saber disso, melhor que ninguém...
    Adoro-te

    De alguém que te observa sempre!

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