terça-feira, 15 de abril de 2014

Só mesmo neste Portugal...

A mana teve que ir marcar uma consulta para a filhota no centro de saúde. A mana não conseguiu marcar a consulta no dia porque ela não vai a mais de um ano ao centro de saúde, e como tal, ficou sem médico de família (!). A mana ligou-me para ver qual o melhor dia para mim e para os agregados cá de casa, assim como o dos meus pais, para marcar uma consulta (!), porque segundo a senhora do guiché, há que marcar uma consulta por ano (pelo menos) para não se perder o dito (médico) ao fim de um ano (!). Segundo o que ela disse à mana, há que picar o ponto (!). A tonta, ouve aqueles absurdos todos impávida e serena e ainda me telefona (tal como a senhora a aconselhou para alimentar aquela palhaçada), para saber qual o dia que me dava jeito para marcar a dita consulta. Lógico, ouviu-me por telefone. Primeiro respondi-lhe que a Zunfinha não é seguida pelo médico de família. Desde que nasceu que é seguida noutro lado por uma pediatra. Segundo, eu só vou ao médico quando estou efectivamente doente. É que está fora de questão marcar uma consulta, pagar cinco euros (dar-lhes assim dinheiro de bandeja) para ter uma consulta para picar o ponto (é que estou a escrever isto e dá-me nos nervos). Estou parva para a vida, só pode. Chegava à consulta e dizia o quê?! É que é inédito até escrever um absurdo destes. Oh valha-se-me... onde vamos parar?! Furiosa perguntei-lhe como é que ela ouviu aquelas patacoadas todas e nem sequer ripostou, nada. Ainda me liga para compactuar com aquela palhaçada. Estava azul, oh céus!. Expliquei-lhe por telefone que aquilo que a fulana estava a dizer não tinha o menor cabimento, não fazia o menor sentido (pelo menos na minha cabeça). Mas onde já se viu a pessoa não estar doente, não estar nada, mas mesmo assim, tem de ir ao médico só para que eles saibam que ok, não tem cá vindo mas, está vivo, atenção, não tirem por favor o médico de família. Nos entretantos, toma lá cinco aéreos da não consulta para compor a coisa. Francamente, só mesmo neste país da tanga que acontece este tipo de acontecimentos. A mana parecia uma barata tonta. Eu fiquei indigna com a situação, com a senhora que veio com a tal conversa, com o sistema que há, com tudo. E ainda fiquei danada com ela por ter comido e calado até então. 

15 comentários:

  1. Eu fico mesmo muito triste com o que estão a fazer ao SNS.
    Se marcas consulta sem estar doente é porque "Ah e tal" estás a tirar a vez a quem realmente precisa de lá ir, se não marcas é porque não marcas.
    Eu nunca pus os pés numa consulta do centro de saúde ao qual pertenço agora, não estou para ir fazer sala para a porta do centro às 5 da manhã porque não têm médicos suficientes para todos os utentes, nem estão interessados em organizar-se. O centro funciona num prédio de andares, sem condições nenhumas para idosos ou deficientes motores. Uma vergonha!

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  2. O melhor mesmo é escrever o sucedido no livro de reclamações do centro de saúde

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  3. Explicando:

    Isto acontece porque, como deves ter alguma noção, não existem médicos suficientes para se atribuir médico de família a toda a gente.
    Em parte, o problema começa na formação, uma vez que não se formam médicos suficientes em Portugal!
    Noutra parte, porque os governos têm alterado as regras do jogo e assistiu-se (e ainda se está a assistir) a um êxodo em massa dos médicos de família para a aposentação, mesmo com algumas penalizações. Ao contrário do que alguns governos pensam, a malta ainda vai sabendo fazer contas...
    ...e isto têm levado a situações caricatas, como por exemplo, o governo dar hipótese de os médicos "suspenderem" a aposentação (ou seja, estão aposentados mas não recebem a pensão, sendo contratados pelo mesmo valor, já não como funcionários públicos mas como prestadores de serviço), para tentar estancar estas saídas...
    ...coisa que ainda assim não está a funcionar!
    Tendo em linha de conta que não se consegue mesmo chegar à cobertura da população, foi encontrada esta solução, ou seja, as pessoas que não precisam de cuidados de saúde por um determinado período perdem o médico de família em favor de outros que estão sem médico mas precisam desses cuidados com regularidade, sendo essa perda de forma automática, mas a atribuição a quem não o tem ser feita por decisão clínica dentro da unidade.
    Isto acontece porque os médicos têm listas de utentes até um determinado número de vagas.

    Até recentemente, 2/3 anos, isto não acontecia, quem tinha médico de família podia estar 20 anos sem pôr os pés numa unidade de saúde que quando lá chegasse tinha o seu médico ou, caso este já lá não estivesse, o médico que tinha herdado a lista. Tens de convir que isto era óptimo para alguns médicos, que chegavam a ter mais de metade da sua lista como "não activos", o que se reflectia no nº de consultas que era dado, sendo que havia doentes crónicos que passavam a vida sem médico certo para os seguir, com todas as implicações que isso por vezes poderia ter. Esta nova forma equilibra melhor as coisas.
    Não estou a dizer que seja perfeita, que não é, mas dá melhor acesso a quem realmente precisa! Claro que haverá abusos, mas esses sempre houve e sempre haverão, independentemente da forma.

    Posto isto, fazer uma consulta só para picar o ponto e continuar com médico atribuído é só mesmo dar dinheiro à toa ao estado.
    Se precisares de uma consulta há-de haver alguém que te veja e se vieres a precisar de ser seguida com mais atenção por algum problema, hão-de atribuir-te um médico de família.

    Quanto à informação que a funcionária deu, será a absolutamente normal se alguém perguntar "mas como é que eu posso manter o médico de família mesmo que não tenha nada?". A funcionária tem o dever de informar a atitude a tomar, portanto agiu correctamente.

    ...e agora já podes tomar uma decisão informada!

    :)

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  4. Vee,

    Pois de facto tem muito que se lhe diga. É que talvez a "solução" que arranjaram nos hospitais seja a mais assertiva. Que para não entupirem os hospitais, toca de aumentar a taxa moderadora para um valor bastante considerável. Assim resolveram o problema (acham eles). Porque talvez os hipocondríacos deixem de ir (ou não), mas havia e há quem efectivamente necessite de cuidados e, ao verem a taxa subir desta maneira, porque depois não é só a taxa, mas a medicação e exames se tiverem que ser feitos (que tudo se paga), que ao se verem num cenário destes, óbvio que deixam-se ficar em casa. E, acredito que muitos deles estão doentes sem se poderem tratar. Uma bela solução, de facto. Quanto às instalações, deixa lá, é mais do mesmo. Aqui o da zona é igual. Prédio com mais de 30 anos, caído de podre, onde só tem escadas como acesso aos pisos e os idosos e pessoas com dificuldades em andar, não sei francamente como fazem. Mudar de instalações? Para quê? Eles que se amanhem. Não são eles (governantes e os seus familiares que precisam de centros de saúde para se tratar. Se fosse, talvez o cenário mudasse logo logo. :S

    Paraíso,

    Quem sabe quando lá for. Porque isto se passou com a minha irmã. O que ao pensar em fazer deixa-me a pensar já que tive uma situação onde envolvia uma enfermeira, a minha mãe e o mesmo local e fiz a reclamação e não deu em nada. Nada mesmo. É o que digo, é o país que temos. :S

    Ulisses,

    Entendo perfeitamente o teu raciocínio e, desde já agradeço-te pela explicação. Mas, mesmo assim, e pegando no exemplo que dei à Vee com os hospitais, voltamos à estaca zero. Porque dê-se as voltas que se der, há coisas que não se deveriam mexer em proveito do sistema mas sim em proveito da população que paga os seus impostos e que o mínimo que querem é serem retribuídos por isso. Porque isto que relatei, não é nada mais, nada menos do que uma espiral para sacar dinheiro a quem já pouco tem e sem fazer nada, o que é mais hilariante, desculpa. :S

    Quanto à funcionária: deixa que te diga que mais valia a senhora ter ficado calada ao invés de responder o que respondeu, pois foi vergonhoso tal resposta.

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  5. Sabes, o problema aqui é que tens gajos no governo deste país que não são lá assim muito espertos...
    ...e que têm a assessorá-los "peritos" que provavelmente nunca entraram num centro de saúde ou hospital!
    Ou seja, tens uma data de gente que está tão longe da realidade que mais valia estarem em Marte ou Jupiter...

    Quanto à resposta da funcionária, dir-te-ia melhor o que acho se soubesse palavra por palavra qual foi a pergunta e qual foi a resposta...
    ...como te disse, se alguém me perguntar o que tem de fazer para manter um médico de família, dir-lhe-ia o mesmo! Não porque fosse minha vontade, mas porque é assim!

    Agora, em relação ao sistema, fomos nós que o deixamos chegar aqui!
    Fomos nós que votamos!
    Fomos nós que elegemos!
    Não há ninguém sentado no parlamento, no governo ou na presidência que não esteja lá porque a maioria da população assim o entendeu!
    E já agora, para que saibas também, esta situação anda em estudo há pelo menos uns dez anos (desde que se fizeram os primeiros levantamentos dos ficheiros clínicos). Podia explicar-te como tudo isto veio a acontecer, detalhadamente, mas, como podes compreender, não o farei aqui! Mas isto já passou por vários governos, começando a ser implementado no Governo do "Socras", o mesmo que empurrou os médicos de família para a aposentadoria, e continuando agora com problemas acrescidos porque este governo empurrou ainda mais médicos para a aposentadoria!
    No fundo, este problema, como tantos outros, têm origem na incompetência política de quem nos governa e na incompetência técnica de quem os está a acessorar!

    Como te disse originalmente, não acho justo este sistema...
    ...mas também não achava justo o anterior, e, a não ser que haja uma qualquer alma iluminada que se proponha a perceber a população que têm no país e as suas reais necessidades, tomando medidas para as suprir contra grupos económicos (que querem é privatizar o SNS e vender seguros de saúde) e lóbis de grupos profissionais (que querem manter o Status quo)...

    ...pq enquanto isso não acontecer, não vais ver nada a mudar para melhor!

    :)

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  6. Eu, por mero acaso, tinha conhecimento destas alterações dado que neste momento se discute a possibilidade da gestão dos centros de saúde saírem da administração central e passarem para as autarquias. O que o Ulisses refere é uma realidade mas vou um pouco mais longe. Penso, mas espero estar enganada, que o SNS se prepara para retroceder 40 anos e voltar a ser o que era antes do 25 de Abril: um serviço aos indigentes. É que, se formos ver bem as coisas, alguém que necessite de apoio médico continuado e não tenha direito a isenção de taxas moderadoras terá porventura que começar a fazer contas e muito provavelmente chegará à conclusão que lhe fica mais barato fazer um seguro de saúde e recorrer aos privados. Este Governo nunca escondeu essa intenção. E os cortes no SNS têm esse objetivo.

    Beijo

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  7. Ia para comentar, mas acho que tal situação não merece comentários, afinal de contas estamos em Portugal...

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  8. Ulisses,

    Aqui neste parágrafo concordamos em pleno. Tanto que por outras palavras foi isso que escrevi quando te respondi.

    Em relação à resposta, sei que não escrevi na íntegra o que ela (mana) relatou mas, o que vagamente escrevi, já isso deixa e muito a desejar (na minha óptica, claro).

    De facto em relação a quem esteve e quem está no governo, de facto, a culpa é de quem os põe lá, sem dúvida. Principalmente quando as pessoas têm memória de peixe e cometem erros sucessivos. Tens o caso flagrante do Senhor Presidente da República, que enquanto Primeiro Ministro fez o que fez, e mesmo assim, as pessoas não satisfeitas, o puseram como Presidente da República. Fantástico! Agora queixam-se e lamentam-se. É um exemplo em muitos... mas de uma coisa te digo: essa carapuça (salve seja) a mim, não cabe.

    Quando quem é de direito resolver levantar o rabinho na cadeira e tirar os cotovelos que estão alapados na secretária (há os exemplos das assistentes sociais), e irem para o terreno, pode ser que aí, se consiga ver progressos lógicos e credíveis. Até lá, é tudo uma grande utopia.

    NI,

    "Sorte" quem tem acesso a esse tipo de informação e pode se precaver de situações destas (e outras). E com o teu comentário concluo que: viramos caranguejos.

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  9. Pronto, eu já devo ter perdida a minha lol
    Como tenho seguro, prefiro o privado... aiai , é uma tristeza isso sim !

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  10. Concordo com todos os esclarecimentos do Ulisses, mas faltou esclarecer o seguinte:
    Segundo as orientações dadas pelo Despacho do Ministério da Saúde, só “perde” o médico de família quem não tem um registo de consulta nos últimos 3 anos e mesmo para estes foi enviada uma carta da ACSS (eu recebi) a perguntar se que querem continuar a ser frequentador da lista do médico onde está inscrito.
    Nessa carta vem um código que, querendo o utente, continuar inscrito na lista do seu médico de família, só tem de telefonar, enviar mail ou ir pessoalmente ao Centro de Saúde activar a sua inscrição. Não é necessário marcar uma consulta ou pagar qualquer tipo de taxa! Ao activar a inscrição, fica por mais 3 anos na lista do médico mesmo que não vá lá nenhuma vez!

    Se por acaso, o utente não activou a sua inscrição e precisar de ir ao médico de família a partir desse dia volta novamente à lista do médico onde já estava inscrito!

    A informação que foi dada à tua mana pelo que pude perceber não está correcta, por isso aconselho-te a leres Despacho n.º 13795/2012 que o podes consulta aqui

    http://www.sanchoeassociados.com/DireitoMedicina/Omlegissum/legislacao2012/Outubro/Desp_13795_2012.pdf

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  11. Eu já sabia disso, mas por mim posso ficar sem médico de familia porque sinceramente os médicos dos centros de saúde que me calham são uma bela m* , por isso ter médico ou não ter para mim neste momento é me indiferente!
    Acho que não é assim que as coisas funcionam e não me podem obrigar!
    Eu até já pedi para sair da lista da minha anterior médica de tão boa que ela era!!!!!!!
    Preferi ficar sem médico....não serem competentes numa profissão destas é que não admito e andarem a brincar com a saúde dos adultos e crianças é que não!
    Se todos reclamássemos das coisas quando não concordamos ou quando não estão bem feitas já podiam ter mudado.....mas o nosso povo é sereno!

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  12. Eu tive que ir ao médico de família para não o perder, mas adiante....sabes o que te digo? Ao invés de agregarem super hospitais, o que é uma triste realidade pelo que vejo na minha zona, deviam sim investir nos cuidados básicos de saúde, esses mesmo, os do centro de saúde, onde se pedem receitas, exames, fazemos as queixas das nossas dores....mas não. Desinvestiu-se, fechou-se, cortou-se, extinguiu-se e por a fora. Resultado: hospitais entupidos, porque a maioria da população vê-se sem alternativa. Ou isso ou privados....

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  13. Não vou acrescentar grande coisa à discussão, mesmo por que o Ulisses deixou claríssima a situação. Falta apenas acrescentar um ou dois aspetos:
    1º - parece-me que a informação relativamente à necessidade de teres uma consulta num prazo de um ano não é a correta, pelo menos não foi essa a informação que me deram. Não quero errar, mas parece-me que o prazo é de 2 ou 3 anos;
    2º - tu não tens que ir ao médico só quando estás doente. Pelo menos de dois em dois anos deves fazer um check-up, logo, a necessidade de haver uma consulta para manter o vínculo é também uma estratégia para que as pessoas controlem a sua saúde.
    De resto, tiro o chapéu ao Ulisses!

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  14. Uiiiii andamos mais uma vez em sintonia....tenho andado às turras com o "sistema" há vários dias....

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  15. Enfant,

    Estás no teu direito.

    Miss Purple,

    Se és seguida no privado não tens que te preocupar.

    Beijo Molhado,

    Os esclarecimentos do Ulisses foram preciosos e entendidos, como já mencionei. No entanto, onde estou a bater no ceguinho, é no sistema em si e no atendimento da senhora.
    Quanto à carta, não recebi nada, e pelos vistos a mana e afins também nada receberam. Contudo, pelo que leio, de facto a informação não foi a correcta. O que piora o atendimento. A mim particularmente não me afecta, porque o meu sistema é outro. Mas agora para eles e para outras tantas pessoas que necessitam, é diferente. Porque como disseste e bem, o atendimento e os profissionais (alguns) deixam e muito a desejar nos centros de saúde. Assim como a organização e tudo mais. Uma lástima.

    Obrigada pelo link, vou ver.

    estrela,

    Pois pelos vistos cada vez mais pessoas pensam e agem como tu. O que há quem possa, mas também há quem não.

    Inês,

    Hospitais entupidos?! Nem isso agora! Com as súbitas das taxas moderadoras, desceu drasticamente. Resultado: as pessoas ficam em casa doentes (quem não pode pagar as taxas, exames e remédios) e se querem.

    Incógnita,

    Pelo que leio sim, a informação foi dada de forma errada. Desconhecia totalmente. Nem recebi nada em casa como alguns de vocês. Também utilizo outro sistema. Os de casa dos meus pais é que não, agora, desde que ele se reformou. Mas também pelo que sei, nada receberam.

    A estratégia até pode ser com "boas" intenções, e é certo que as pessoas não deviam de ir médico só quando estão doentes, pois se talvez seguissem à risca tal recomendação, precavia-se tantas doenças... no entanto, sabemos que não é assim tão linear pelas diversas circunstâncias que há na vida de cada um.

    Sónica,

    Boa sorte.

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