quinta-feira, 3 de abril de 2014

O que pensar quando não conhecemos o que nos rodeia e quem nos rodeia?

Há histórias que quando começam mal, tendem a terminar da mesma maneira. Isto é matemático. As pessoas é que ainda não se deram ao trabalho de fazer contas mentalmente, quanto mais pelos dedos.

Tenho um amigo que é daqueles amigos que o vejo como um irmão. Quando estamos juntos é sempre na palhaçada. As gargalhadas e as tontarias são uma constante. É uma pessoa trapalhona. Trapalhona, mas genuína. A boa disposição, aquele sorriso nos lábios e o brilho no olhar, são a sua marca registada. De há uns meses para cá ele retomou a relação que tinha deixado e como tal, fechou-se mais no mundo deles. Hoje em dia para irmos beber um café é preciso quase um requerimento. Ontem aconteceu o bendito café/lanche. Assim que o vi, vi um amigo cabisbaixo, de olhar triste e sem aquele brilho que o caracteriza. Conversa vem, conversa vai, e com as perguntas certas percebi que as coisas não estão bem. Uma das perguntas que fiz foi: "o que têm em comum?" - Não soube responder. O silêncio foi o senhor do espaço por um determinado tempo. O ar rosado na face passou a fazer parte da caracterização. O jeito sem jeito foi um adereço constante. Os pensamentos esvoaçantes pairaram sobre a nossa mesa. Pensou, pensou, mas não soube responder. Disse que iria pensar. Disse que iria lhe perguntar (namorada) para saber a resposta dela (!). Disse que não estava à espera de uma pergunta daquelas (!). Disse que ainda bem que tinha acontecido comigo e não com outra pessoa, pois estava à vontade (apesar do sem jeito gritante que se encontrava apesar da confiança e da amizade). Disse muitas coisas mas não disse o principal, a resposta à pergunta.

Disse que não estava à espera da pergunta. Mas no meu ponto de vista, é uma pergunta quase idêntica ao: como te chamas? Que idade tens? De onde és? Quais os teus gostos e afins? São perguntas do nosso foro íntimo e pessoal. Aquela pergunta é também do foro íntimo e pessoal de um casal. Penso que é tão simples quanto isto. Eu penso. Eu sinto. Eu sei que são. E saberia responder se me perguntassem. Mas pelos vistos ele não sabe e, na minha óptica, não saberá. Pense o tempo que pensar. Porque as coisas ou saem fluídas e genuínas ou então serão somente cópias do que se ouviu por aí... e foi isso que aconteceu. Porque ouviu o que eu pensava. Quando chegou a casa ouviu a namorada e mesmo que tenha parado e reflectido (hum...) não sei não... e isso é um mau presságio. Porque se das coisas simples e básicas em relação ao outro, em relação à nossa relação não sabemos, o que dizer das coisas complicadas e difíceis de entender? 

19 comentários:

  1. Imagina que o teu amigo chegou a casa, perguntou à namorada e ela hesitou, respondeu-lhe que iria pensar e que não estaria à espera daquela pergunta.

    Mesmo na ausência de uma resposta verbalizada, ela está lá, implícita no silêncio que se ocupou desse espaço. e ele respondeu-te. Aliás, até creio que se respondeu a ele mesmo. Resta-lhe perceber se a resposta foi aceite, compreendida e depois? Bem, depois é lá com eles!

    Existem perguntas às quais, a verdade das respostas é tão dura que se foge delas, ignoram-se, empurra-se com a barriga, a medo do que essas respostas possam mudar.

    Beijocas ;)

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    1. Foi isso que lhe disse. Que aquele silêncio dizia tanto...
      Quanto à resposta, penso que ele tem medo de verbalizá-la. É bom? Não me parece. Incorporar uma avestruz, também não. ;)

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    2. Também considero que não é nada bom fugir, até porque, por mais que se fuja, não se "afasta" da questão (neste caso, da resposta) mas, sem julgamentos (quem sou eu até porque já vivi numa relação em que me anulei por completo) cada um vive mediante as suas respostas mais adequadas, nem sempre as verdadeiras mas as que mais lhes convém dar em determinados momentos, por vezes, durante uma vida inteira, o que é muito triste.

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    3. Entendo o que queres passar, mas agora escrevo pela minha postura e o meu pensamento transmitido aqui, neste texto: os amigos não servem só para dar palmadinhas nas costas e dizer ok a tudo. Eu não sou assim na vida e com os meus. E quem me conhece e me quer por perto sabe de antemão com o que pode contar. E ao ser assim não estou a julgar e apontar o dedo, mas antes a dar a minha perspectiva, dar a minha opinião e abanar se for preciso. Pois para mim, só assim faz sentido. ;)

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  2. Pronto..eu sou maluco... é o que é...!!!
    Para mim a pergunta feita dessa maneira e dentro do contexto onde provavelmente aconteceu, pode complicar em demasia a resposta...e resultar na ausência da mesma..(silêncio ensurdecedor, eheheheh)...
    É pressionante, ainda mais estando provavelmente numa situação delicada com a namorada...
    Eu não acredito que eles não tenham nada em comum... mas, aquilo que realmente me incomoda é sequer pensar que por não terem nada em comum, NÃO POSSAM gostar um do outro...
    O amor/paixão/atração, estes sentimentos na sua simples complexidade acontecem sem sabermos o porquê... Eu não sei porque amo a minha mulher... simplesmente sei que sim...
    Sei que a minha vida actualmente sem ela não faria qualquer sentido...sei que os meus pensamentos vão todos ter a ela...sei que o sorriso dela me faz feliz... mas porquê é que a amo... não sei...será que é por tudo ou será que é por nada...!!! Não sei...
    Temos poucas coisas como gostos comuns... mas a realidade é que OS OPOSTOS PODEM MESMO ATRAIR-SE... e complementarem-se... Porque no fim de contas... o que realmente importa...é ambos saberem que GOSTAM UM DO OUTRO...
    O teu amigo pode até não transparecer a alegria de outrora... pode até estar diferente para com o mundo... mas talvez...ele e ela...no mundo DELES...sejam felizes...!!

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  3. Não necessariamente. Isto porque a conversa surgiu fluída, e foi ele, inclusive, que optou por falar dele/deles. Por isso que o que dizes no inicio do comentário perde-se um pouco. Depois, a questão aqui, não é se têm ou não algo em comum e se tem é X e se não têm é Y. A questão é que mediante tal pergunta não saber o que responder.

    "O teu amigo pode até não transparecer a alegria de outrora... pode até estar diferente para com o mundo... mas talvez...ele e ela...no mundo DELES...sejam felizes...!!" - Não sabia que existia um botão on/off. As pessoas quando estão felizes umas com as outras estão, ponto. Sente-se. Respira-se. Tresandam-se a quilómetros. Acho estranho que alguém que esteja enamorado por outro alguém quando estão juntos é pura felicidade, e quando estão com outras pessoas nota-se o oposto. Principalmente quando o assunto é eles. Até porque se há algo que denunciam os enamorados, é o brilhozinho no olhar. É aquele sorriso só porque sim quando falamos e ao mesmo tempo pensamos na pessoa. Afinal, é quem nós (supostamente) gostamos e que gosta de nós. Que nos faz bem etc, etc... Há aqui qualquer coisa no teu comentário que não bate, desculpa. :S

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    1. Não sei... neste momento estás a "julgar/analisar" o amor, mediante aquilo que é o correcto e imaginado por ti... (“Não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos.” ― Anaïs Nin).. essa é a tua (e da maioria da pessoas) definição de estar enamorado, esbanjar felicidade... brilho nos olhos, é uma realidade, pois acontece há grande maioria das pessoas, MAS não somos todos iguais, nem todos vivemos o amor/paixão/atração da mesma maneira...aliás não vivemos a vida todos com a mesma intensidade...uns adoram animais..outros pessoas...outros o silêncio...somos todos diferentes..
      Existem pessoas que mesmo amando muito nunca deixam transparecer...por feitio, por experiências anteriores falhadas, ou simplesmente por serem frios (gélidos mesmo)...Feliz ou infelizmente temos HOMENS que são robots... que não demonstram qualquer emoção.. a demonstração de emoções pode ser considerada ser inferior... não sei.. eu não digo que seja o que se passa com ele... mas pode ser bipolar... e para o MUNDO agora ser essa pessoa distante... apática e quiçá triste... e para o MUNDO DELES...ser alegria e felicidade no mais puro que podemos encontrar... digo EU que sou maluco...

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    2. Não estou a julgar nada nem ninguém. Estou somente a dar a minha opinião, a minha perspectiva de uma situação/relação/pessoa que só por acaso conheço, e que foi ela mesma que veio (vem sempre) abrir-se. O que lhe disse aqui (e mais até do que aqui está) por outras palavras foi o que lhe foi dito pessoalmente. Inclusive, pedi-lhe se podia partilhar no blog. Porque apesar de não citar nomes, não gosto de "expor" assim a intimidade de ninguém sem o seu consentimento. Agora, é óbvio que neste post está fundido a minha opinião pessoal sobre o assunto com o que penso num modo geral e até o que foi conversado. Contudo, repito: tudo o que aqui está escrito, é o reflexo da nossa conversa. Em suma: não é só a minha opinião que prevalece nestas quantas linhas que estão por aqui a fora (se é que me falo entender). ;)

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  4. É uma óptima pergunta.
    Mas minha querida, algo me diz que essa namorada dele não vai gostar muito de ti. :p E provavelmente também não saberá responder.

    Beijocaaa!

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  5. Agora fizeste-me rir! De facto não nos conhecemos pessoalmente, só de ouvir-mos falar uma da outra e, pelo que sei, torce o nariz. E, cá para nós, essa resposta, sabemos, como mulheres que somos. Eu sei pelo que ele me passa, e tu sabes porque não a colocaste à toa (instinto feminino, será?). ;) Quanto a ela, com certeza que também sabe porque torce o nariz. Apesar que sem fundamento, concluo.

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  6. Essência, a mim diz-me que o silêncio e a falta de resposta estão na provável submissão dele (um homem que tu dizes ser brincalhão, alegre, sorriso nos lábios e brilho no olhar) a qual ele não quer transparecer, nem que seja à amiga de peito, que tu és.
    E tu sabes que há mulheres que têm um jeitinho muito especial para dominar os homens.
    E quando uma pessoa gosta da outra e está bem com ela, não tem problemas em contar um bocadinho que seja do estado da relação.
    Beijinho




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    1. "Essência, a mim diz-me que o silêncio e a falta de resposta estão na provável submissão dele (um homem que tu dizes ser brincalhão, alegre, sorriso nos lábios e brilho no olhar) a qual ele não quer transparecer, nem que seja à amiga de peito, que tu és." - Não acho descabido, de todo. ;)

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    2. Concordo com tudo... excepto com o "...não ter problemas em contar um bocadinho....", mas porquê é que contar é bom... porquê é que extravasar sentimentos e alegria pode ser bom sinal... Existem pessoas que não têm problemas em falar / desabafar com o mundo tudo... (aqui como a Essência, e EU e provavelmente tu Cantinho) mas existem outras pessoas que ficam em pânico só de pensarem em revelar um pouco de si para outros...seja da relação ou não..!!

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  7. E fizeste uma das perguntas fulcrais. E quando não há resposta, acho que é um mau presságio.
    Além de ele estar triste como disseste...
    situações de treta ...

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    1. Pois, parece que a pergunta era um grande Calcanhar de Aquiles. ;)

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  8. Se calhar sou pouco romântica, não sei, mas acho que o gostar/amar só por si não alimenta uma relação a longo prazo, é preciso ter uma visão em comum, objectivos.
    A pergunta pode levar a que perceba que realmente não têm muito em comum e não vale a pena ou a fazer com que falem disso e percebam o que é que têm em comum e alimentem isso.

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    1. Seguindo o teu raciocínio, concluo mais uma vez (pois já escrevi em cima), que a avestruz entra em acção. Não sei até que ponto é benéfico. :S

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    2. Quando as pessoas têm medo das respostas fogem delas. É humano.

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  9. EU SOU EU, na verdade, há homens que não conseguem transparecer e/ou contar/desabafar o que sentem, mesmo que seja à melhor amiga..
    Feitio deles.
    Mas, mais cedo ou mais tarde, dá-se a explosão...só que pode ser tarde demais.
    Beijinho

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