terça-feira, 29 de abril de 2014

Lá teve as suas razões...

Se fosse uns anos atrás, depois de ler esta notícia pensaria: o que leva uma pessoa a um acto tão extremo como este? Hoje em dia não. Hoje em dia limito-me a ler a mensagem e a pensar: lá teve as suas razões.

Se diz que ninguém tem o direito de terminar com a própria vida. Se diz que Deus deu, Deus tira. Mas, a vida é de cada um e, se temos livre arbítrio para a comandar, também temos livre arbítrio para decidir quando, onde e como se chega ao fim com ela se assim se entender.

Se diz que é preciso estar muito mal para se ter um acto destes. Se diz que só se pode estar muito maluco da cabeça para tais pensamentos. Se diz que se é egoísta pelas pessoas que se deixa. Se diz que se é cobarde porque não teve forças e nem coragem para lutar contra todos os fantasmas, contra todas as adversidades. Se diz. Se diz tanta coisa... mas o certo é que ninguém sabe as reais razões (só quando efectivamente a pessoa dá essa informação). Ninguém sabe porque a pessoa quis que o seu fim chegasse assim, de forma tão (precoce?), repentina. Ninguém sabe porque a pessoa deixou de acreditar ou de olhar para as coisas que fazem parte e deixaram de fazer sentido. Coisas essas como a vida, os sonhos, as pessoas, a sociedade, o universo, as estrelas, o sol, a lua, a chuva, as estações do ano, as flores, os animais, as crianças, as crianças... tudo. Ninguém sabe. E por ninguém saber que depois a pergunta se impõe: porquê?! Os próximos ficam incrédulos. Os mirones atiram palpites para o ar. Porque será?... Ninguém sabe, mas essa pessoa lá sabe. Sabe porque vai pôr fim ao que deixou de fazer sentido. Se as coisas todas deixam de fazer sentido... Não me choca hoje em dia, não me choca. Tanto que quando li tal notícia pensei automaticamente: lá teve as suas razões. Porque no meio de tantos ses e mais ses, a única certeza (incrível!) que existe, de facto, é esta.

9 comentários:

  1. Acho que tal se deve ao facto da vida, ao contrário daquilo que se pensa, ser a excepção e não o comum e regular. Com bem dizes lá teve as suas razões e se por um lado posso não concordar do ponto de vista pessoal com tal acto, por outro tenho de admitir a coragem.

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  2. Concordo contigo. Muitas vezes, nem os mesmos sabem, racionalmente e naquele instante, porque o fazem.
    Por outro lado, uma coisa é certa: quem se quer matar, mata-se. Noutras situações, existem "chamadas de atenção" que, por vezes, "dá para o torto".

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  3. Como sabes já escrevi em tempos sobre este tema. E, ao contrário da maioria, penso que o suicídio não é um acto de cobardia, pelo contrário. E não posso criticar porque as razões de um acto definitivo como esse cabe a cada um dos que assumem essa decisão.

    Beijo

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  4. Respeito quem o faz.
    Não sinto que seja egoísmo, sinto sim, que seja desespero ou, como dissestes, quando a vida já não tem sentido.
    Beijinho

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  5. Como tu dizes e bem ” lá terá tido as suas razões”…que poderão ter sido muitas!

    Mas só UMA lhe terá dado este acto de coragem!

    Deixou pura e simplesmente de ter ESPERANÇA no que quer que fosse!


    Beijinho grande e que nunca nos falte a ESPERANÇA !

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  6. Diz-se muita coisa mas ninguém consegue imaginar o que lhes vai na alma para por fim à vida...
    beijos

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  7. Eu continuo a dizer que acho uma cobardia...mas realmente nunca se sabe ao certo o que se passa na cabeça de uma pessoa que a leva a cometer um acto desses. Tão novo, com tanto por viver....

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  8. Enfant,

    É um misto, portanto, que sentes.

    Yellow,

    Nunca fiando. Porque o que descreves é o típico chamado "padrão normal". Mas no entanto, há pessoas que fogem à regra ou querem fugir desse padrão normal. Vidas...

    Ni,,

    Resumiste tudo em uma só palavra (sem te dares conta, talvez) definitivo. Tal acto resume-se a isto: definitivo.

    cantinho,

    Se deixou de fazer sentido tudo.

    Beijo Molhado,

    Que nunca nos falte o que achamos por base continuar.

    imprópria,

    São os zuns-zuns que alimentam os curiosos (e não só).

    Sónica,

    Também pensava de forma depreciativa a tal situação. Pensava. Hoje, não penso mais.

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  9. Há muitos, muitos,muitos Pedros por aí, mas apenas alguns são notícia. Se os restantes também fossem, iria-se alertar muito mais a população para o problema e para a doença. Confesso que antes considerava o acto mais egoísta que o ser humano fazia. Contudo, agora considero que é um misto: egoísmo e coragem.

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