quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A Educação no seu melhor!

A Zunfinha tem 7 anos e anda no 2º ano. No fim-de-semana que passou, a Zunfinha passo-o praticamente a estudar. Com algumas (poucas) pausas pelo meio. A professora mandou para casa o «perfil de avaliação sumativa», onde se encontrava a tipologia dos testes. São três os testes, e na mesma semana. Segunda-feira, Quarta-feira e Sexta-feira. A Zunfinha tem 7 anos e anda no 2º ano. Na segunda feira, após o primeiro teste feito (português), a Zunfinha trás para casa quatro fichas (frente/verso) de avaliação de matemática para levar no dia a seguir. Ficamos desde as 18 horas até às 20:30 a fazer as fichas. Às tantas a Zunfinha questionava-se se sabia as coisas. Estava cansada. O mais incrível, é que havia exercícios que ela ainda não tinha dado (!). Ela só dizia: "mamã, mas isso ainda não dei, e agora?" - Dei a volta à situação e desdramatizei a coisa. Expliquei o que havia de ser explicado. Já estava azul com aquilo tudo. Estava doida. Ontem, a Zunfinha trouxe mais quatro fichas (frente/verso). Agora de Estudo do Meio. Desta vez foi das 18 horas até às 20 horas. A Zunfinha tem 7 anos e anda no 2º ano.

Ontem, de manhã, no carro enquanto seguia viagem para a escola, a Zunfinha começou com aqueles sintomas típicos de pressão. Segundo ela, doía-lhe a barriga e a cabeça. Ontem foi o dia do teste de matemática. Sosseguei-a. Conversei com ela e disse-lhe para ver o teste como se fosse um de português (onde se sente mais segura). Interpretá-lo como tal. Principalmente nos problemas. Vê-los como se estivesse a ler um texto onde depois há umas tantas perguntas que têm que ser "resolvidas". A única diferença é que a maioria do exame é escrito por números. Mas a essência é igual, saber interpretar o que está lá escrito. Ao ultrapassar isso, ultrapassa tudo. Após esta conversa sentia-a mais calma. Mais confiante. No final do dia disse-me que achou que correu bem. A Zunfinha tem 7 anos e anda no 2º ano.

Fiz o que achei que tinha que fazer, questionei a professora se é mesmo necessário este entupimento de fichas excessivas na semana que vai haver os testes (já não chega a pressão dos testes em si? Já não chega a matéria que é dada na sala de aula?), estudar, estudar, estudar até mais não num curto período de tempo (os exames do primeiro período ainda não esfriaram) como se não houvesse amanhã. Porque noto sinais na Zunfinha que não acho de todo normal e nem saudável. Responde-me que tem que mostrar resultados ao Ministério. Segundo a própria, em tom de desabafo, não vai faltar muito que os lugares dos professores irá depender dos resultados obtidos pelos alunos. E se isso vier a acontecer, ela própria irá embora do país. Está aqui tudo, nas entrelinhas. A Zunfinha tem 7 anos e anda no 2º ano.

Isto tudo não é novidade, porque a professora avisou os pais logo no início do ano lectivo que para os meninos do 2º ano ia ser mais puxado. Porque agora os meninos têm que fazer (quase) no final do ano (lectivo) o exame igual aos meninos do 4º ano. Aquele exame que os "entendidos" vêem se as crianças estão (mais) aptas para avançar de ano. Bom, no 4º ano ainda percebo. Afinal, esses miúdos vão passar para o secundário onde existe outra realidade (em tudo). Os meninos nessa altura têm 9 a 10 anos. Estão um pouco mais crescidos, um pouco mais "maduros". Agora, no 2º ano, as crianças rondam os 6, 7 anos. Muito imaturas (na grande maioria). Muitos ainda estão com muitos reflexos da pré, ainda estão a engrenar no 1º ano apesar de já estarem no 2º ano e levam com esta pressão toda? Há na sala da Zunfinha, por exemplo, para se ter uma noção, meninos que ainda não sabem ler. Outros, muito mal e porcamente. Escrever, idem, idem, aspas, aspas. Como, como conseguem eles lidar com tudo isto? Terem a noção de tal responsabilidade que lhes estão a colocar às costas? É que já nem vou para o campo do tempo que os pais (não) têm.

Estarei a ser uma mãe-galinha? Ou a ver as coisas como realmente são? É que penso que para tudo tenha que haver o seu tempo certo. E aqui, neste caso, acho sinceramente que o Ministério da Educação está a cometer um erro muito grande e grave em expor, em prensar miúdos que mal sabem ler e escrever só porque querem ver resultados com os seus "colaboradores" (será o nome indicado? Já nem sei). Porque tudo não passa disso mesmo, números. Mas ao agitar este saco, quem salta fora rapidamente são os miúdos, que são nada mais nada menos do que o elo mais fraco. E como disse a professora, cada vez mais, a escola está a ser feita para os melhores. Agora pergunto (como lhe perguntei, também)? Melhores em quê? Mediante o que está à vista de todos.

A Zunfinha tem 7 anos e anda no 2º ano.

13 comentários:

  1. A mente fresca de uma criança é uma esponja que tudo absorve e que deve ser estimulada mas convenhamos. Isso só causa desmotivação, pressão como referes e os resultados poderão ser catastróficos, principalmente se considerarmos que está agora a começar os estudos e começa assim!
    Fico assustada com o que me espera, confesso.
    E fico assustada pela tua Zinfinha, por tantas crianças como ela que são "obrigadas" a adquirir o conhecimento, a aprender, depressa demais, por imposição de um critério nada justo e nada adequado.
    Olha, beijoca grande de apoio para a Zunfinha querida, que tenham ambas, estofo mental para aguentar com esta "prova"!

    Mais beijocas para ti ;)

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  2. No teu post dás a resposta às questões que levantas. Hoje, em Portugal, somos apenas números, dados estatísticos e folhas de excel. Para atingir os fins não se olham a meios.

    E, sim, não tenho qualquer dúvida, estão a construir um País onde as desigualdades se vão acentuar e na educação só os melhores irão ter acesso (melhores que depois "zarpam" para outro País). Basta estar atento às "negociatas" das subvenções em detrimento da escola pública.

    Beijo

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  3. Pois é...

    ...a minha piquinina está quase a ir para a primária e eu já vou anticipando os problemas que vou ter com os professores!
    É que há coisas, sejam do curriculo ou não, que não vou admitir! E não as vou admitir porque quero que a minha filha aprenda e não que ande a cumprir programas imbecis desenhados por tecnocratas alheios à realidade...
    ...Mas cho que o problema maior vai mesmo ser com a porra do acordo ortográfico! Acho que a piquena vai ter de aprender duas linguas porque eu recusarei, sempre, qualquer erro que lhe seja marcado num teste escrito EM PORTUGUÊS CORRECTO. E o chato é que sou gajo para me bater de valores com isso!
    (Só para teres uma ideia, não participei na ultima antologia da minha editora, apesar das insistências, porque o editor me avisou logo à partida que os textos terias de estar de acordo com o novo acordo ortográfico, coisa que eu lhe disse que jamais aconteceria com um texto meu)
    Isto já para não falar nas exigencias de trabalhos passados a computador! Eu quero que ela aprenda a ler e escrever, não a ler e a ter um curso de dactilografia!
    Assim como sou gajo para me chatear com alguém que meta esse tipo de pressão aos miudos!
    É que esse tipo de pressão que é metido hoje em dia às crianças e que provoca níveis de stress e ansiedade brutais, não é muito diferente das reguadas que levava na minha segunda classe quando não fazia os TPC's (não é que seja assim tão... "arcaico" mas a minha professora era!)

    Acho que vou ter mesmo muitos, muitos problemas com a escola! E acho que os professores vão ter muitas chatices por lhe darem aulas!

    LOL

    :)

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  4. Bem-vinda ao mundo dos indignados pelo nosso sistema de educação.
    Sou solidário com o sentimento. Já nem falo na questão dos manuais escolares (é livro, caderno de fichas, caderno de atividades e mais os halteres halterofilismo para entortar as costas das crianças) que são escritos por meia dúzia de professores, revistos por outra meia dúzia, e do leque de livros escritos por meia dúzia de professores, revistos por outra meia dúzia, são "escrupulosamente" seleccionados paras as respetivas escolas para no final verificarmos que estão cheios de gralhas e que os professores não os seguem porque não gostam deles (mas se os alunos não levarem levam falta).
    Quanto aos exames (4º ano e 6º ano) é ver as crianças deprimidas, ansiosas, a chorarem, a vomitarem. E para quê? Os professores ao longo desses anos facilitam e dão excelentes notas (penalizando e desmotivando os bons alunos) para poderem sofrer o embate da má nota no exame. Depois, é ver a taxa de "sucesso" e o meditático ranking das escolas.
    E, assim, se "educa" neste país...

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  5. Estás a ver as coisas como elas são.
    Eu não acredito no nosso sistema de educação. Não acho normal, não acho nada saudável, esse sobrecarga de crianças tão novas, sem lhes deixar espaço para aprender mais do que a teoria. Sem espaço para sair e ver o mundo como ele é, para aprender no terreno... Não acho normal que crianças de 8 anos (como a filha de um colega) tenha crises de ansiedade porque tem medo de já não saber nada para a ficha que vai fazer amanhã na escola. Não é uma dorzinha de barriga, são crises de ansiedade! E é uma menina que é boa aluna.
    Como pais acho que temos de tentar exercer algum tipo de pressão para que alguma coisa mude, mas é difícil, eu sei.

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  6. Trabalha-se para a estatística à bruta, seja na educação, seja no cumprimento dos défices, seja no que for. Não se governa para o país, governa-se para o exterior, varre-se o lixo para debaixo do tapete, o que interessa é mostrar (mesmo que não esteja) a casa limpa. Está-se pouco preocupado com o efeito nisso, nas gerações futuras, nas gerações presentes, nas gerações passadas. Todos têm de aguentar e calar. A conclusão disto no caso específico? A tua zunfina até poderá conseguir acompanhar, com mais ou menos dificuldade, mas muitas outras zunfinas não vão conseguir, vão ficar pelo caminho, vão ganhar horror à escola, não vão querer estudar e tudo será um castigo cujas consequências vão se ver daqui a uns anos.

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  7. Espera até chegar ao 4º ano...infelizmente a coisa não vai melhorar...anda tudo histérico com rankings. O ano passado a P. andou terminou o 4º ano, é excelente aluna, não porque estude em casa ou a forcemos a isso mas porque é atenta nas aulas...pois mesmo assim era no ano passado " massacrada" pela professora para fazer mais e mais, não sei para chegar a que notas por já tinha a máxima...não foram poucas as vezes que reuni com a professora dizendo-lhe que assumia a responsabilidade dos resultados mas que não a queria tão pressionada...antes a queria feliz e com tempo para em casa estar com a família...Nunca a professora percebeu nem as coisas mudaram, ou mudaram algumas mas à força de eu me impor e recusar algumas coisas...A P. fez a aferição com nota máxima...mas eu teria preferido para o 4º ano que quoficiente de felicidade na escola tivesse sido 5...e nesse ano na verdade não foi!!!
    Não não és uma mãe galinha no que isso pode ter de mau...és uma mãe preocupada com a felicidade da tua filha!
    Beijinhos
    Maria

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  8. tem que haver um meio-termo... as crianças têm de ter tempo para brincar

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  9. Não acho normal existir tanta pressão em crianças tão pequenas. Afinal, são só crianças! Obviamente, que tem de haver exigência por parte dos professores, mas não em demasia, pois as crianças têm de ter tempo para brincar! Senão quando é que brincam? E que adultos vão ser?

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  10. Ai, Essência, nos dias que correm é tão complicado ser professor(a)!
    Mas não concordo nada com a quantidade de fichas e trabalhos que se dão para casa (porque eu nunca o fiz com os meus alunos, mais crescidos).
    Lendo todos os comentários, não deixo de comentar que têm razão: nas fichas, na quantidade de livros que as crianças levam para a escola... e até, sem qualquer dúvida, do novo acordo que o Ulisses comentou.
    Mas estás a ser exemplar com a atitude que tens com a Zunfinha. Continua.
    Beijinho

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  11. Os miúdos têm que ter trabalhos de casa, e estes devem ser obrigatórios. E pelo que sei por amiga com uma filha no 2º ano, os tpc's deixaram de ser obrigatótiros (uma grande asneira essa). Todos nós tivemos trabalhos de casa e não morremos por causa disso (quer dizer, eu tremia quando tinha que ir resolver as contas ao quadro).
    Mas não exageremos, nem tanto ao mar e nem tanto à terra. Isso é demais. TPC's sim, mas com conta, peso e medida. Avaliações sim, mas na mesma medida.

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  12. Karochinha,

    Não vale a pena sofreres antecipadamente. Quando chegar a altura logo vês como lidas com as situações que vão aparecendo. ;)

    Obrigada. ;)

    NI,

    Dupla estupidez! Deixam as pessoas se formarem (quem consegue. Porque até para isso está cada vez mais complicado) para depois irem embora. Enfim, é o governo que temos. Não foi o próprio Primeiro Ministro que "aconselhou" as pessoas a emigrar? O meu decote agora lembrou-se (tonto, pá!): "porque ele não seguiu o seu próprio e tão sábio conselho?" - ;)

    Ulisses,

    O mesmo que disse à Karochinha te digo a ti, mas com uma ressalva: atenção, porque serão mais as vezes que te vais aborrecer e tudo mais do que as não. Estaremos cá todos (se Deus quiser) para depois vires cá partilhar isso mesmo. ;)

    Yellow,

    Pois, pelo que leio estás num patamar mais avançado. O que concluo (e não é preciso ser-se muito inteligente para isso) é que daqui para a frente (e como disse ao Ulisses), serão as vezes que vou-me chatear do que as não. Uma tristeza. Por vezes questiono-me se serei muito mãe-galinha, ou severa demais com a professora e outras coisas do género, mas mediante tais coisas, oh céus, só se andasse a dormir na forma é que me passaria ao lado,

    A mim, dás-me as boas vindas. Eu desejo-te boa sorte. :)

    V.,

    Como disseste e bem, é difícil exercer qualquer tipo de pressão quando em 30 alunos (por exemplo) só 5 pais é que se manifestam e fazer ver perante a professora as suas perspectivas sobre determinadas situações que se vão passando. É que enquanto as pessoas quererem que as coisas apareçam feitas sem se mexerem, ou à espera dos outros, fica complicado, quando o elo mais fraco são os alunos/pais. E são/somos porque de certa forma assim queremos/permitimos. Quando todos e quando escrevo todos é literalmente todos, pode ser que aí as coisas comecem a mudar. ;)

    Enfant,

    Concordo. A Zunfinha tem uma mãe e um pai que se preocupa com ela. Que se assentam com ela para fazer os trabalhos. Vêem os livros todos os dias, a mochila e tudo mais. perguntam como foi o dia na escola. Preocupam-se com os sinais positivos e negativos. E por isso mesmo já detectei algumas coisas que até partilhei aqui no blog que se passaram com ela na escola. De facto a Zunfinha tem uns pais que se preocupam, mas infelizmente há outras tantas Zunfinhas que não têm a mesma sorte. Por culpa em parte dos pais, outra parte da sociedade (tempo que têm pelo trabalho), da escola (por estas e outras atrocidades), enfim, é um bolo que vai crescendo crescendo sem prenúncio de ter fim. ;)

    Maria,

    O que se passa no 4º ano é o que se está a passar agora no 2º (está no post) com as devidas ressalvas. Por isso se torna tão ridículo!

    Obrigada pela partilha da tua experiência e, entendo perfeitamente as tuas palavras, e de facto dá que pensar mais uma vez. ;

    Maria,

    Sem dúvida. Há que haver tempo para tudo. ;)

    Miss S,

    Segundo eles, querem adultos "brilhantes". ;)

    cantinho,

    Sei disso, tenho pessoas no meu ciclo que o são. Mas se nos dias que correm é difícil ser-se professor, ser-se pai e mãe não é menos. ;)

    A Zunfinha no 1º ano não trazia trabalhos. Só quando não fazia na aula é que trazia para acabar. No 2º, sim. Todos os dias tem trabalhos para fazer, todos. O trazer trabalhos, não acho mal de todo. O que acho mal, é a pressão que há na altura dos testes. Porque a matéria já é dada na aula, mais a que se estuda em casa, mais os trabalhos de casa e mais as fichas que trazem sobre a dita matéria. Bom, é excessivo quando em causa estão crianças de 6, 7 anos que como disse no post, muitos nem sabem ler e nem escrever e os que sabem aprenderam há poucos meses. Surreal. E nem vou para o campo do acordo ortográfico. Não saia daqui hoje. ;)

    Inês,

    Essa dos tpc´s só se for na escola dessa menina, porque aqui na escola da Zunfinha há tpc´s, sempre. No 1º ano não havia. Mas no 2º, há sempre. Sempre mesmo!

    E sim, o sensato é quando é com conta, peso e medida. ;)

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