terça-feira, 23 de outubro de 2012

Esforço mental.


Este post talvez vem para ir me capacitando dos tempos que se avizinham. Talvez...

Sou friorenta, mas sabe-me pela vida estar em casa naqueles dias cinzentos, chuvosos, ventosos que o tempo grita aos sete ventos para que os homens se abriguem da sua fúria. Sabe-me bem tirar partido do que tenho em meu redor, no conforto do meu lar, para que de uma maneira ou de outra amenize a impossibilidade de usufruir o que temos de mão-beijada, a harmonia atmosférica quando ela deseja se dar. 
Muitas vezes quando me dou conta, estou em frente à janela, com o nariz esborrachado no vidro a contemplar a chuva a cair. Ouvir as gotas a bater no corrimão de ferro da varanda. É  um bálsamo para os meus ouvidos. Porém, é um misto que sinto nos dias assim. Fico melancólica. Sinto-me frágil, pois ora tenho frio e quero aquecer o corpo mesmo que a alma, essa, continue gelada, mas, ameniza. Reconforta um pouquinho, sim.
Então, é ver-me de pijama envergado, meias grossas. Isto para não acrescentar o belo dos lenços de papel. Pois, aqui a menina, é uma estufa como só. Irrita, mas apesar dos breves momentos de irritação, eis que o bom-senso cai em mim e o estado de resignação toma conta do resto.
Quando ouso dar o ar da minha graça lá fora, que é como quem diz, enfrentar o mau tempo, fico sempre numa constante hesitação do que vestir. É o senão desta estação. Contudo, os casacos compridos de pêlo na gola super charmosos, fazem as delicias desta pequena. Os chapéus a compor o traje, as luvas de pele, os botins, aqueles que nos fica no goto praticamente a estação toda, dão o toque final. Acrescentando também, como não poderia deixar de ser, o perfume, sim, quente, porque é esse que convida a fazer parte do ritual. Depois, impõe-se a incerteza de como deixar os cabelos. Eles que nesta altura do ano são tão rebeldes. Ficam completamente descontrolados. Ficam senhores de si. Eis que mediante tal cenário, opto então por apanhá-los, assim, meio solto meio apanhado. Não por querer levar a melhor. Não por querer sufocá-los, mas porque nem sempre deixar o que quer que seja à deriva é respeitar. Muito pelo contrário. É querer mostrar que há outras formas de estar presente, de uma forma elegante e, sem causar mau estar. Porque não é necessário. Não precisamos ferir para levar a nossa avante. Basta contornar, somente isso. Posto isto, os meus cabelos resignam-se também. Afinal, o bom-senso reina por aqui, e aceitam que ficam melhores assim.
Prova seguinte, olhar-me ao espelho. Ver o que todos vêem e em consequência, ver um pouco mais. Ver para além daquela imagem de bonequinha que está perfeita aos olhos dos demais e até dos meus. Mas, é o que salta à vista. O que está por dentro fica só para mim, e para o espelho.
Postura firme e imponente abro a porta da rua. Tudo sai, tudo entra, os fluidos. Ninguém vê, somente os próprios. Assim como a minha imagem, a que está mais além.
Fecho a porta atrás de mim e em passos firmes, acelerados, sigo em busca do não-sei-o-quê. Opto então por explorar o que o universo tem para me oferecer.
Vento. Vento esse que bate no rosto como a querer dizer «acorda para a vida». De seguida o frio. Pois andam praticamente de mãos dadas. Esse, tem por norma a particularidade de gelar. Mais que os ossos, a mim surte o efeito de gelar a mente. Interpreto como se quisesse apaziguar o constante turbilhão que se encontra. Ora, nem que seja por breves momentos, enquanto permaneço ali. No entanto, consegue tal proeza, magnífico! Sim, eu sei que é um ganhar de tempo. Resta saber, e eis que a pergunta não se cala «ganhar tempo de quê e para quê?». Mesmo assim, quero pensar também que talvez seja eu que me queira dar a esse descanso. Já que o meu botão está avariado e não desliga. Ao menos, aproveito a benesse que me estão a dar.

12 comentários:

  1. devias escrever um livro :)

    Paulinha

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  2. Como descreveste e bem esta sensação do frio a tomar conta de nós, a fragilidade como a chuva e o cinzento absorve a nossa pessoa, sou tal e qual como explicaste e bem aqui no teu texto.
    Adorei o ler.
    Bjs

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  3. Essência Maria... senão escreveres um livro... levas uma palmada no rabo! :D

    Adorei o texto!!

    Em particular este pedaço..."Prova seguinte, olhar-me ao espelho. Ver o que todos vêem e em consequência, ver um pouco mais. Ver para além daquela imagem de bonequinha que está perfeita aos olhos dos demais e até dos meus. Mas, é o que salta à vista. O que está por dentro fica só para mim, e para o espelho."

    beijo
    Sutra
    P.S.: Vou fazer um abaixo assinado para entregar na assembleia da república, para aprovar uma lei que considere CRIME, tu ainda não teres escrito um livro... :D

    A petição já tem duas assinaturas... a minha e a da "As Duas na Letra"... :D

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  4. Excelente texto, dá a quase para sentir a sensação do vento na cara.

    Um abraço

    Pedro Ferreira.

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  5. Palavras mais frescas :)
    Estou com os vizinhos de cima...escreve!
    Nem que seja para ti e depois logo vês o que fazes. Mas escreve !! ***

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  6. Que maneira bonita de descrevers o Inverno
    Também assino a petição!

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  7. Adoro estar quentinha em casa a ouvir a chuva, adoro adoro adoro!!!

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  8. Muito bem escrito! Aquilo que podia ser uma coisa corriqueira, ficou descrita de uma forma muito bonita.

    xx

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  9. Risos... só vocês para me fazerem rir.

    Obrigada pelo voto de confiança. ;)

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  10. Tardiamente, comento que, exceptuando a chuva, caminhar sozinha com o vento e o frio a bater-me no rosto, acordam-me para a vida. Esfrio o quente do coração e a mente da agitação.
    Belo post.
    :)

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"Eu não escrevo em português. Escrevo eu mesmo".♥ - Fernando Pessoa

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