segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Vai emigrar!

Pois é. Quando ouvimos ou lê-mos esta frase «vai emigrar» parece tão simples, e quão pequenina é. Vai emigrar. Quando a lê-mos ou a ouvimos, assim numa rápida e primeira impressão, soa-nos a novos horizontes, a novas conquistas para ir em busca de um novo mundo. Um novo mundo onde se é detentor dele e mais ninguém. Soa-nos a abraçar novos projectos, novos sonhos. Soa-nos a abraçar novos ideais. Soa-nos a imparáveis. Soa-nos a sermos grandes. A sermos gigantes! Soa-nos... soa-nos, somente isso. Porque quem nunca emigrou não sabe, e fala ou escreve de cor. Quem já o fez, fala ou escreve de cor, também. Porque nunca, nunca ninguém consegue ter as mesmas vivências que outro alguém. Nunca, nunca ninguém tem a mesma percepção das coisas. Nunca, nunca ninguém consegue sentir, moldar-se e adaptar-se, viver, viver como outro alguém. Cada um é como cada qual e todos juntos não formam um só. Pois somos diferentes. Somos todos diferentes! Cada um com a sua essência. Cada um com o seu ADN. E é isso que nos distingue dos demais. É isso que nos tornam únicos! «Vai emigrar» nos dias de hoje interpreta-se como ou «vai fazer-te à vida», ou «desampara-me a loja». Não, não são de conotações fáceis. Ambas são de uma frieza atroz. Aliás, a frase tão pequenina, de pequenina, não tem nada. Porque ela abrange tanto ou mais que se pode alcançar. É impetuosa. É dissimulada. É poderosa. É poderosa. Pois se numa primeira impressão soa-nos a sonhos cor-de-rosa, soa-nos a abraçar este e o outro mundo e a palmilhar terra até mais não, porque nos sentimos fortes, nos sentimos gigantes dentro da nossa insignificância, também há o lado negro. O lado que nos soa a medo, a desilusão, a frustração, a incertezas e inseguranças em entrar num mundo desconhecido e alheio a nós. A nós seres insignificantes. Que é nada mais nada menos do que só mais um ser a tentar que as sementes que leva na bagagem floresçam. Há sempre os dois lados. Sempre. Há quem se esqueça. Há quem simplesmente não quer saber. Há quem é tão alienado que apaga essa informação, simples assim. Mas eles existem e ditam as regras da vida, da vida dos seres insignificantes. Porque ao contrário do que se possa pensar, não somos assim tão donos de nós e do mundo. Somos uns meros piões numa mesa de xadrez à mercê da sorte. Porque é mediante ela e a astúcia de cada um que é ditado se se chega ou não até ao fim da partida. 

Vai emigrar!
Quem tem o direito de pedir ou sugerir a outro alguém a fazê-lo? Quem? Se cada um é como cada qual e todos juntos não formam um só.

10 comentários:

  1. Emigrar é uma escolha ou uma necessidade e como dizes ninguém vive essa experiência da mesma forma e muitas vezes a ideia que se tem antes da partida é muito diferente do que se sente depois da chegada e perante o que se tem de enfrentar...!
    Bjs
    Maria

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  2. Uma sugestão é apenas isso. Eu emigrei porque tive essa vontade e fui respeitada e apoiada pelos meus pais. Em 8 anos e 2 países passei muito de bom e menos bom. Pode dizer-se a alguém que se gosta se na nossa percepção isso pode ser positivo e a pessoa pode aceitar ou refutar. Conta mais a intenção com que se sugere tal mudança a outra pessoa. Pode soar a último recurso e algo penoso na conjuntura actual. Somo um povo com tantas raizes plo mundo que não me parece grave trazer tal assunto à baila.
    Beijinhos :-)

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    1. Fez ontem, exactamente quando escrevi o comentário, 9 anos que saí de casa dos pais, da cidade e do país. Fiquei tao melancólica o resto do dia pelas voltas que a minha vida deu desde entao... Quem diria que o teu post me iria recordar da data que este ano estava esbatida com muito sono e trabalho :)

      Beijinhos

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  3. Dificil, emigrar.
    Se por vezes incentivo, outras fico com uma angústia quando percebo que , lá muito longe, está alguém que eu amo e que não posso acompanhar o seu dia a dia.
    É um assunto tão pessoal, tão complicado de digerir, mas que respeito, para quem vai.
    Beijinho

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  4. Hoje garanto-te que não emigraria, houve tempos em que aceitaria essa possibilidade de caras, sem pestanejar. Depois de ter emigrado, dentro do nosso País, de me ter sido complicado de gerir essa mudança, de estar longe dos meus (e ainda assim tão perto), de estar desempregada, das hipóteses de sucesso serem mínimas, de me ter sentido excluída e descriminada pelos habitantes daquela terra, sou-te franca, é preciso ter muita coragem. Muita coragem, determinação, ser forte, psicologicamente. E perseverante, resiliente.
    É tramado, ter de explorar o mundo lá fora, quando cá dentro, poderiam existir condições semelhantes como incentivo ao "fica por cá"!

    Tema muito complicado este.

    Beijocas ;)

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  5. Acho que a esse respeito há dois paradigmas, a enfabulação que muita gente faz e a realidade que encontra! Emigrar hoje parece ser a conversa fácil para resolver qualquer problema, tal como aqui há uns anos a conversa era, tira um curso superior e terás uma boa vida!

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  6. Gosto muito e por outro lado aflige-me.
    Ninguém tem o direito de pedir nem de impedir, no meu egóismo sinto-o, não o digo, mas nota-se no meu olhar. Quero e não quero...este é um assunto que me arrepia...

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  7. Quem o faz precisa de coragem por muito que lhe soe...abandonar o conforto nem sempre soa só a aventura mas também a necessidade. Por uns tenho pena porque são obrigados a ir por outros fico feliz porque fizeram por vontade. Cada um é como cada qual lá está...

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  8. Não é um tema fácil. Como disseste, e muito bem, cada ser é único. E as situações em que ocorrem também são diversificadas. Uns encaram como um desafio, outros como um sacrifício. Uns partem pela aventura, outros pela necessidade.

    E o mundo está cada vez mais globalizado, com tudo o que há de bom e de mal nisso...

    O meu pai "emigrou" de uma pequena aldeia do Minho para Lisboa quando era novo. Depois para Macau. Mas a "distância", especialmente naquela época, era "igual" em ambos os casos.

    No final, quer-me parecer - para uns, mais, para outros, menos - todos sentirão a necessidade de "voltar para os braços da sua mãe".

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  9. Atenção! Este post não é, de forma alguma, uma critica a quem emigra. Este post é só um questionamento se por ser uma decisão tão pessoal se não deveria ser também pessoal a decisão. Se o bichinho implantado no coração, na mente, também não deveria ser posto somente na primeira pessoa.

    Maria,

    Há coisas que só deveriam partir de nós. Esta, é uma delas. ;)

    Pusinko,

    Obrigada, querida, pela partilha. Pelo que leio, o post mexeu bastante contigo. Se por um lado fico contente por perceber que o que escrevo acaba de certa forma por "abanar" quem por aqui passa e lê, não lhes é indiferente o que digo, por outro lado, perceber que mexeu aí nas tuas lembranças, nas tuas coisas guardadas que pelo que sinto estão fechadas a sete chaves, deixou-me um pouco apreensiva. Num misto. Obrigada, Pusinko, por vires aqui e partilhar também, o segundo comentário com tanto lá escrito. Um grande abracinho. ♥

    cantinho,

    Entendo. É um misto que para aí vai. ;)

    Karochinha,

    O "fica por cá" é uma utopia nos dias de hoje. É mais o "fica por lá", ou "vai para lá, algures...". Penso que o slogan em Portugal é mais estes. :S

    Enfant,

    Em suma: favas contadas... ;)

    Sónica,

    Hum... reveste-te no post, é isso? Pelo discurso como se tivesses em "conflito" contigo mesma parece. Nada é fácil ou simples e quem diz, quer enganar. Mas com bom senso e ponderação, acabamos por encontrar um caminho seguro para passar no meio destes eucaliptos todos que se encontram pelo meio. ;)

    Nada,

    Sim, cada um é como cada qual e todos juntos não formam um só. Por isso só nos resta desejar no nosso intimo o que quer que seja. ;)

    Yellow,

    E o teu comentário daria outro post, dentro do mesmo tema, mas noutra vertente. ;)

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