sábado, 1 de fevereiro de 2014

Apontamentos de leitura

Ficou na retina...

"No fim, tu morres. No fim do livro, tu morres. Assim mesmo, como se morre nos romances: sem aviso, sem razão, a benefício apenas para a história que se quis contar. Assim, tu morres e eu conto. E ficamos de contas saldadas."

- Miguel Sousa Tavares, "No teu deserto"

[Há muito tempo que andava num turbilhão comigo mesma sempre que pegava num livro dele. Porque o homem irrita-me como comentador. Todo o conjunto do senhor, irrita-me. Sim, continua a irritar-me. No entanto, não conhecia o lado como escritor e, talvez por ter já aversão que sempre travei o ímpeto que tinha quando ia a uma livraria e pegava num livro do mesmo. Lia o prefácio, mas instantes a seguir pousava. Mesmo que o livro me chamasse a atenção pensava sempre: "ao ler irei sempre lembrar-me dele a comentar e tudo mais, não vou conseguir dissociá-lo". - Estava errada. Ela mostrou-me (engraçado que tínhamos ambas a mesma impressão). Falou-me um pouco da sua escrita. Emprestou-me dois livros. Este «No teu deserto» e «O Rio das Flores». Além dela, este livro (pelo menos este, por enquanto) também mostro-me o quão errada estava. Li-o. Li-o como se não houvesse amanhã. Ora, vê-se pelo impacto que teve em mim. Aliás pelo trecho que postei, que é o começo do livro, diz tudo. E não, não me lembrei do homem enquanto lia. Mas sim fiquei antes com a sensação de que quem tinha escrito era um homem belo e sensível. Como é incrível o poder da escrita. O que se segue é «O Rio das Flores». Espero que o amor que começou entre nós se mantenha.]  

2 comentários:

  1. O Miguel Sousa Tavares é digno dos pais que teve. Também há muitos comentários dele que me irritam (então se for por causa do FCP... lol). Mas noutros ele está cheio de razão, por muito que nos custe ouvir. Sugiro que o oiças na entrevista do Alta Definição ( https://www.youtube.com/watch?v=7F0ncmHATDc ). Vale a pena.
    Quanto à escrita... estão lá os genes da doce e Grande Sofia. Também eu li, como tu, o "No teu Deserto" "... como se não houvesse amanhã". E até a paisagem me ajudou, na Comporta. É um livro muito especial (está lá o meu "silêncio"!), tem um cantinho dentro de mim, formando com o "Morreste-me" e o "Fazes-me falta" a tríade dos pequenos-mas-enormes-livros que me acompanha, que me dizem que o anoitecer é o prelúdio de um lindo amanhecer.
    Belo comentário. Fizeste muito bem em partilhá-lo connosco. Bem-hajas.

    ResponderEliminar
  2. Essência, como tu, quando ia/vou à prateleiras de livraria, hipemercado, seja onde for, pego nos livros dele e pouso-os. alguns nem sequer o prefácio lia/leio .
    Tempos houve que adorava ouvir este senhor.
    Depois, vieram os constantes ataques...
    Semanas em que quando ele comentava no jornal da noite, ia para a cozinha...
    Agora, voltei a ouvi-lo...
    Se há alturas que o admiro porque diz coisas que por mais que nos custem ouvir, di-las acertadamente.
    Nunca comprei um livro dele...
    Agora, vieste tu com estas palavras...
    Quem sabe?
    Excelente post.
    Beijinho

    ResponderEliminar

"Eu não escrevo em português. Escrevo eu mesmo".♥ - Fernando Pessoa

A essência que queres partilhar comigo é?...