quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A fome dos dias de hoje

Conheci uma mocinha (amiga de outrem) que no decorrer de uma conversa de circunstância de café, desabafou que arranjou um trabalho. Trabalho esse que trabalha 14 horas seguidas com uma folga e meia. Recebe o ordenado mínimo, que não é ordenado mínimo, afinal, há os descontos a fazer. Estás nisto há três semanas. Segundo a própria, está exausta. Está pelas costuras. Precisa, mas está exausta. Não sabe se aguenta muitos mais dias pois está exausta. Mas precisa. E sabe. Tem plena consciência disso. Mas está exausta. E são estas, as oportunidades que os patrões dão aos seus empregados. E são estas, as oportunidades que o país dá. É um oportunismo esfomeado, cheio de ânsias. Ânsia de comer as entranhas, a vida, os sonhos, a alegria, as forças, a sensatez, a dignidade dos demais. Dos demais que precisam.

Não sei o que é pior, se os dias de ontem onde existia a escravatura, e ninguém sabia pura e simplesmente o que era e como era ser-se livre, ou se os dias de hoje, que sabemos o que é e como é ser-se livre, mas encontra-partida, estão cada vez mais a voltar a fechar as pessoas em senzalas.

14 comentários:

  1. No outro dia afirmei que estávamos a regressar aos tempos da revolução industrial e que Portugal seria o País das "Grandes Esperanças" de Charles Dickens. E não andámos longe. Basta ver o fosso entre ricos e pobres no nosso País que se acentuou em tempos de crise. São as consequências de se destruir a classe média.

    Beijo

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  2. As crises são sempre aproveitadas pelos aventureiros, pelos bandidos e pelos oportunistas. Nunca houve tanto rico e tanto pobre ao mesmo tempo. E desenganem-se aqueles que dizem que tudo isto foi culpa nossa ou é para pagar uma factura que nunca será paga. É tudo sim para agrilhoar e se ontem estávamos cheios de nós próprios, confiantes que tínhamos direitos inalienáveis, hoje praticamente nos vendemos por qualquer migalha, fruto de toda esta conjuntura na qual procuramos sobreviver.

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  3. É uma vergonha.
    As pessoas precisam de comer. Precisam de trabalho. E há gente que se aproveita da situação. Ganância, não há outra definição!

    Beijinho :)

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  4. Sim, escravatura consentida, porque existe sempre quem se sujeite, porque precisam, porque têm necessidades básicas a suprir, como VIVER!
    É triste, é lamentável e vergonhoso, como nesta actualidade, neste século, ainda se vive com mentalidades e atitudes retrógadas e oportunistas, semelhantes às praticadas desde há milénios, passando pela idade média até ao tempo da dita escravatura.

    E liberdade? Qual liberdade? Cada vez sou mais crente que somos uns "falsos livres"...e umas perfeita smarionetas (como te escrevi no outro post), para uso e proveito de quem não tem escrúpulos nem dignidade!

    Beijocas inconformadas ;)

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  5. Isto são as consequências do que foi propositadamente premeditado, por meia dúzia de cabeças da alta finança, que resolveram através de pura e simples especulação, criar uma crise mundial!!
    Em nome dessa “crise” os governos de praticamente todos os países decidem, ou por “medo” ou por interesses próprios ir atrás do que esta meia dúzia de cabeças lhes impõe!
    E atrás destes vêm as entidades patronais, que valendo-se, também, da “crise” despedem os trabalhadores que já tem anos e anos de trabalho e experiencia, para depois contratarem a “mão de obra barata” e esta mão de obra, como não têm opções de escolha é o “pegar ou largar”…e sempre é melhor ter antes 350€ do que não ter nada!!!
    Ainda há dias, houve alguém que com o seu ar arrogante e feliz dizia:
    “A vida das pessoas não está melhor, mas o país está muito melhor”
    Faltam “ucranianos” aqui e em muitos outros países…

    Bom dia para ti :)

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  6. Continuamos a engolir tudo o que nos dão e roubam, ao mesmo tempo. Já há muito que digo que a escravatura do seculo xxl é, agora, da classe média, cada dia mais submissa.
    Beijinho

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  7. Enquanto a maioria (classes pobre e média) das pessoas não se aperceber...e tomar consciência que apenas unindo-se contra a minoria (ricos)... TODOS.. não pode existir dentro da maioria uma minoria que quebre essa luta... nunca se vai conseguir que os ricos tenham em conta os pobres... Somos escravos deles... ganhamos dinheiro ao trabalhar para eles que depois TEMOS obrigatóriamente de gastar com eles...
    Quando 99% dos funcionários das GRANDES SUPERFICIES (CONTINENTES/PINGOS e outros) se unirem...dizerem que não trabalham...e cumprirem com isso... enquanto não forem reconhecidos os seus ordenados miseráveis..enquanto mesmo os que se encontram no desemprego... em situações precárias...TODOS JUNTOS...não se recusarem a trabalhar por tostões... nada vai mudar...
    é assim...os RICOS...vêm apenas $€...e números... e sabem que se tiverem 100.000 funcionários a trabalhar por 500€ a fazer o trabalho de 150.000...significa mais lucro para eles...é a lei da vida...e o EGOÍSMO e SOBERBA da minoria em relação aos outros...

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    1. E isto não é apenas para as grandes superficies... mas sim...para todo o tipo de trabalho...e para o desemprego... só unindo-nos podemos exigir...mais e melhor...para quem realmente TRABALHA... muitos dizem que TOMAR DECISÕES é dificil... e como tal devem ser bem pagos... não !!!! Trabalhar muito e receber pouco é que é dificil...viver ou sobreviver com pouco ou nada é que é dificil...

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  8. Nunca esteve tão bom para os oportunistas. O país não precisa de "empresários" deste género, nem o país, nem o mundo, nem nada.

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  9. Quando olhamos à volta, há aqueles que estão extremamente bem e há os que estão muito mal...é uma tristeza.

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  10. Porque os valores humanos estão em crise... sempre estiveram em crise. Sentimos mais as injustiças porque elas estão ao nosso lado, convivem connosco, entram-nos pela porta dentro.
    Lembrei-me da estória da criança que levou o ovo cru para a escola e o espirito solidário e a bondade da Zunfinha. Quem nos dera haver mais Zunfinhas. Quem me dera ser um pouco mais Zunfinha (mea culpa!). Mas naquela corrente de emoções acabei por encontrar, desaguados noutros pontos da blogosfera, um ai-coitadinho-mas-é-de-mim. Porque sentimos mais as injustiças porque elas estão ao nosso lado, convivem connosco, entram-nos pela porta dentro. Mas já existiam crianças sem ovos crú para comer, ali um pouco mais à frente, talvez um pouco mais ao virar na esquina, talvez um pouco mais longe, ali em África. Mas já existiam homens, mulheres, rapazes, raparigas, velhos, velhas e crianças com trabalho de escravo ali um pouco mais à frente, talvez um pouco mais ao virar na esquina, talvez um pouco mais longe, ali numa fábrica na Ásia. Mas talvez agora sentimos mais as injustiças porque elas estão ao nosso lado, convivem connosco, entram-nos pela porta dentro. E lembrei-me do espirito solidário e a bondade da Zunfinha. Quem nos dera haver mais Zunfinhas. Quem me dera ser um pouco mais Zunfinha (mea culpa, mea grande culpa!).

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  11. Infelizmente não é a unica a passar por isso...e é por isso que muitos optam pelo desemprego onde recebem mais pelo que fazem que é nada. Não nos matam por não ter...matam por ter...

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  12. Infelizmente passei por isso, sofri na pele! Foi recente e ainda doí olhar para as pessoas que estam a passar pelo mesmo...acho que vai doer sempre! Depois tive "sorte", arranjei outra coisa, na minha area,onde gosto imenso de estar mas marcou-me, na altura roubou-me os sonhos!Beijinho

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  13. NI,

    Falávamos tanto do Brasil, que era um país que somente estava dividido entre o rico e o pobre e olhamos agora para nós em simultâneo para o mesmo país que em tempos "criticávamos". Olhemos e vejamos no que nos estamos a tornar. "Engraçado" que até dêmos de bandeja a nossa língua. Assassinamos a nossa língua em nome de quê? De quê mesmo que ainda até hoje não consegui compreender? Estamos a perder tudo! Além dos "bens", estamos a perder a dignidade.

    Enfant,

    Sim, a crise é desculpa para tudo. Para o Oportunismo. Para o Roubo. Para tudo! E esta é a hora dos ricos. Não é à toa que dizem por aí que se querem comprar casas, terrenos e afins, é esta a hora. E assim os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres enfim, enterram-se mais. Mais do que estavam...

    Maria XL,

    Falta de carácter, também.

    Karochinha,

    Sim, vivemos numa ilusão utópica. Completamente!

    Beijo Molhado,

    Em parte do que escreveste, encontra-se num livro que li e que gostei bastante. Quem tiver curiosidade leia: Conspiração OCTOPUS de Daniel Estulin. Vale a pena ler e perceber melhor estes meandros.

    "... e sempre é melhor ter antes 350€ do que não ter nada!!!" - Sabes que esse valor nos dias de hoje, não é nada! Se ficas com 350€ já com os descontos, nunca levas esse dinheiro para casa, efectivamente. Pois tens que pagar transportes (passe ou combustível), alimentação. Se tiveres filhos e tiveres que os pôr na cresce ou no ATL então... Se fores a fazer contas do que ficas de facto, nem 100€ ficas para levares para casa. Isto é tudo ilusório. Só quando as pessoas perdem tempo a fazerem contas e a ver os prós e contras é que se dão conta da realidade.

    Eu ouvi a pérola que referes. Só me pergunto como deixam ir para o ar comentários desse género? Que são uma afronta para a sociedade. Os órgãos de comunicação social aqui também estão mal. Enfim, é cada um a puxar a sardinha para seu lado.

    cantinho,

    Classe média? Onde pára a classe média? Há muito que foram engolidos.

    Eu sou eu,

    É este o ciclo vicioso em que vivemos. O problema é que as pessoas acomodam-se às situações. Outras não se querem chatear. Outras que enfim, são da opinião que se não podes com eles, junta-te a eles. E por estas e outras que nada se resolve. E quando vierem as eleições estaremos todos cá para ver isso mesmo. Ver este ciclo dar mais uma volta ao carrossel enquanto o posso fica lá em baixo a assistir a volta.

    Vee,

    De facto e como disse em cima, esta é a hora deles!

    Sónica,

    Sim, os que te referes, são os ricos e os pobres. O meio termo (classe média), já era.

    Yellow,

    O problema é esse "coitadinho-mas-é-de-mim." - Enquanto só olharmos para o próprio umbigo, olharmos no espelho e vermos reflectidos em nós um Tio Patinhas, não há Zunfinhas que consigam mover um grão de areia, que dirá mexer com a consciência e os actos dos demais.

    Nada,

    ... enquanto tivermos, sugam-nos. Quando deixar-mos de ter, põe-nos de lado. Como quem diz, na rua. Porque há tantos sem abrigos? Porque estiverem neste ciclo que acabou ficarem de lado. Ficarem na rua.

    Tânia,

    São marcas que ficam para sempre.

    Abracinhos

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