domingo, 10 de maio de 2009

A besta sensível

Ontem, eu e o N, tivemos alforria da nossa filha. Foram só 4 horas, mas já deu para relaxar um pouco da rotina. Fomos ao jantar de anos do nosso amigo R.
Soube bem o convívio com os nossos amigos queridos, que por circunstâncias da vida alguns não vemos com tanta frequência como gostaríamos, no entanto, apesar de não estarmos juntos todos os dias, "são aqueles amigos". Foram 4 horas que passaram a voar. Pela companhia uns dos outros, pelo restaurante em si que é agradável de se estar, pela comida que estava muito boa. E claro, pelo aniversariante, que é uma pessoa muito especial. Especial por ser a pessoa besta/sensível. Quando digo besta/sensível, digo no sentido de que, aparentemente parece ser uma pessoa muito uauaauaauaaaa, mas quando conhecemos, descobrimos que por trás daquela capa se encontra um homem muito bom, sensível, humano e que até é capaz de chorar. 
Já conheço o R há 12 anos (como o resto do grupo de teatro), mais ou menos. Sempre nos relacionámos pelo teatro, o que mais tarde gerou uma amizade que foi crescendo. É de não esquecer que na altura ele namorava com a minha amiga Su (sim, mas agora está casado com a minha amiga RJ).
Contudo, de todas as pessoas do grupo o R sempre se destacou, embora eu ainda não tivesse descoberto a pessoa linda que ele era. A primeira vez que tive o primeiro sinal foi há 7 anos atrás, quando ainda namorava com o N. Estávamos a fazer a peça da Ilha dos Anjos na altura. Foi no Verão, quando soube que estava grávida. Na altura não reagi muito bem à notícia, por tudo: pelo facto de ainda estar a morar na casa dos meus pais, não estarmos estáveis financeiramente, apesar de já estarmos a trabalhar os dois, e porque ainda não estar preparada para ser mãe, tanto assim, que no dia que soube que estava grávida, o meu corpo negou de tal maneira que até febre tive (pode-se imaginar o meu estado).
Na altura vieram-me muitas coisa à cabeça... apesar e já terem passado 7 anos, ainda custa-me muito falar disto, porque sinto-me culpada. Culpada porque depois da febre que tive, deu-se uma hemorragia.
Ora que, dois dias depois tive uma reunião da Utopia na casa do meu querido amigo V e A. Durante a reunião comecei a sentir-me mal, quando vou ao WC vejo que estou a ter uma hemorragia. Nem queria acreditar. Só aí me dei conta que estava a perder o meu bebé. Bebé que na altura que soube não quis. As pessoas que lá estavam na altura foram fantásticas. Quando cheguei ao hospital já não havia nada a fazer. Senti-me tão mal, tão culpada, tão impotente comigo mesma. Já estava a começar a ver a gravidez de outra maneira, apesar dos contras todos que racionalmente tinha visto, mas depois, quando passou o choque da gravidez veio o choque da perda. Posso viver 100 anos e nunca mais vou esquecer daquela noite. Quando fui para o hospital de Cascais e já não havia mais nada a fazer, fizeram uma raspagem, o que é muito doloroso por tudo, física e psicologicamente. Estava numa salinha pequena com uma cortina, o N. estava do lado de fora (coitado) ele sempre quis, desde o primeiro dia que soubemos, sempre. Quando pensava que já tinha tudo terminado, eis que aparece uma enfermeira que mostra-me o feto morto. Entrei em choque. Perguntei o que estava a fazer?! Disse que era para não ter dúvidas. Foi horrível, sem explicação.
Quando saí, nos agarramos um ao outro a chorar...
Na altura estava cheia de dores e não podia ir para casa dos meus pais naquele estado. Ficámos na casa do V e do A. Foram espectaculares a noite toda. Não me lembro de muita coisa, mas segundo eles não foi uma noite muito fácil...
Obrigada meus amigos queridos. O Ed, A, V, R, P, C, H, a todos!
No dia seguinte fomos passar uma semana a casa de uma "amiga" na Ericeira, que na altura apesar das suas psicoses nos deu muita força (há sua maneira). Sem dizer no grupo, que foi ter connosco nesse fim-de-semana. Foram de facto incansáveis...
Lembro-me de tudo. Cada gesto de cada um, cada palavra de carinho, tudo!
Depois da semana na Ericeira, quando regressámos, o nosso amigo R convidou-nos para irmos a casa dele jantar. Foi ele que preparou o jantar. Comida vegetariana. Estava divinal! Foi seitã, tofu e mais qualquer coisa. Foi uma noite bastante agradável. Nós apreciámos muito o gesto dele. Ligava-nos sempre a saber como estávamos, um doce.
Apesar de serem vários os amigos que estiveram connosco nesta hora tão difícil para nós, que não nos deixaram, o R foi o imprevisível. No seu rótulo de besta, mostrou o lado sensível, e aí, pude ver a pessoa bonita que é, afinal o lado besta é só uma máscara, que para quem o conhece não mete medo.
Amo os meus amigos de paixão. Estão no meu coração. Como costumo dizer: são poucos mas bons! Os melhores!

7 comentários:

  1. Emocionei-me, pois claro! Costuma-se dizer que quem ama os meus filhos, minha boca adoça. Também se aplica aos maridos. Sou suspeita mas ele tem realmente um coração grande e sensível :)))
    Os amigos são a família do coração.
    beijinhos grandes

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  2. realmente o seu corpo rejeitou a gravides pq vc foi a primeira a rejeitar....mas hoje em dia tem uma filhota linda e isso e o que importa..

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  3. Anónimo, de facto é isso mesmo que importa...Apesar que no fundo a sombra sempre vai permanecer....

    Obrigada pela constatação!

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  4. tivestes um aborto?e nao dissestes nada?fiquei parva quando li o blogue.mas ja esta tudo bem contigo e que interresa e que tens uma filha linda e claro a minha sobrinha.beijos claudia botelho

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  5. Ès um lindo ser humano. Por dentro e por fora. Adoro te

    De alguém que te observa sempre!

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