sábado, 17 de maio de 2014

As palavras dos outros, os sentimentos dos outros que nos tocam também ♥

Comecei a amar-te no dia em que te abandonei.
Foram as palavras dele quando, dez anos depois, a encontrou por mero acaso no café. Ela sorriu, disse-lhe «olá, amo-te», mas os lábios só disseram «olá, está tudo bem?». Ficaram horas a conversar, até que ele, nestas coisas era sempre ele a perder a vergonha, por mais vergonha que tivesse naquilo que tinha feito (como é que fui deixar-te?, como fui tão imbecil ao ponto de não perceber que estava em ti tudo o que queria?), lhe disse com toda a naturalidade do mundo que queria levá-la para a cama. Ela primeiro pensou em esbofeteá-lo e depois amá-lo a tarde toda e a noite toda, de seguida pensou em fugir dali e depois amá-lo a tarde toda e a noite toda, e finalmente resolveu não dizer nada e, lentamente, a esconder as lágrimas por dentro dos olhos, abandonou-o da mesma maneira que ele a abandonara uma década antes. Não era uma vingança nem sequer um castigo – apenas percebeu que estava tão perdida dentro do que sentia que tinha de ir para longe dali, para ir para dentro de si. Pensou que provavelmente foi isso o que lhe aconteceu naquele dia longínquo em que a deixara, sozinha e esparramada de dor, no chão, para nunca mais voltar.


De tudo o que amo és tu o que mais me apaixona.

Foram as palavras dela, poucos minutos depois, quando ele, teimoso, a seguiu até ao fundo da rua em hora de ponta. Estavam frente a frente, toda a gente a passar sem perceber que ali se decidia o futuro do mundo. Ele disse: «Casei-me com outra para te poder amar em paz.» Ela disse: «Casei-me com outro para que houvesse um ruído que te calasse em mim.» Na verdade nem um nem outro disseram nada disso porque nem um nem outro eram poetas. Mas o que as palavras de um («amo-te como um louco») e as palavras de outro («amo-te como uma louca») disseram foi isso mesmo. A rua parou, então, diante do abraço deles.


- Pedro Chagas Freitas

3 comentários:

  1. O Amor tem muito que se lhe diga. Gostei de ler o texto. Eu, quando namorei e me apaixonei ( não durou mais e mais, por ela ser professora e eu era um estudante universitário e estávamos a 200 km´s de distância ), sofri muito porque amava de corpo e alma. Sinto que não fui 100 por cento correspondido, mas acontece isso em todas as relações. Mas tenho a certeza que teve um fraquinho por mim e que ainda hoje gosta de mim por amizade. Há uns anos, ela namorava e mandou-me uma mensagem tardia a dizer " quem me dera que vivesses ao pé de mim, queria tanto ter um abraço teu neste momento e estar junto de ti...." . Via-se que estava desiludida com alguma coisa ou que alguma coisa se tinha passado... mas naquele momento, senti mesmo que ela queria a minha presença.. Fala-se em Amor e lembro-me destas coisas.. Não sei se tu és assim quando começas um desabafo com os teus amigos ou se todas as mulheres são assim, mas naquele dia perguntei a ela o que se tinha passado e não quis dizer nada... manteve segredo. Ainda não entendi porque é que as mulheres são assim... mas sim, gosto de falar de assuntos do Amor. beijos e um abraço.

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  2. Gostei bastante.
    Mas acho que há historias de amor para serem vividas e outras esquecidas.
    Beijocs.

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  3. A vida é demasiado curta para deixarmos dez anos escorrer-nos pelos dedos fora perdendo a pessoa que amamos. Desperdício de tempo precioso que perderam a complicar...em vez de se preocuparem a ser felizes:)

    Jinhoooooooosssssss

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