Não se explica, sente-se. Respira-se, somente isso.

Na casa dos meus pais, antes de me vir embora, a minha mãe pergunta-me se quero levar jantar. Ai de mim se não aceitasse, ficava magoada (coisa de mãe é o que me resta concluir). Aceitei. Assim que abro a panela, veio-me um cheirinho tão, sei lá, tão familiar, que num impulso digo em voz alta (enquanto respiro o aroma que vinha da panela): "cheira a mãe". - Os meus pais, ambos, sorriram, mas a minha mãe, orgulhosa com aquilo que tinha acabado de ouvir (via-se pela expressão dela), perguntou-me o que queria dizer com aquilo. Não lhe soube explicar por palavras (ainda agora não sei). Porque há coisas que não se explica, sente-se, simplesmente. E, a única coisa que fiz foi-lhe dar um beijinho, sentir o cheirinho dela (cheiro de mãe) e vir embora agarrada com a caixa ainda quente. Soube-me pela vida o jantar. Não tanto pela comida em si (não é das minhas preferidas), mas por aquele cheiro que emanava a sala e inebriava os meus sentidos. Aquele cheiro que não se explica, sente-se. Respira-se, somente isso.