Abro a janela, olho lá para fora e noto um tempo nublado. Um tempo que ameaça chuva.
Chove abundantemente. Chove, incessantemente, como se o tempo quisesse lavar a alma do universo.
Cai neve. Geada fria. Geada que queima as plantas que querem dar o ar das suas graças nos jardins, nos canteiros vizinhos. Nem chegam a partilhar a harmonia com a humanidade. Nem chegam a embelezar a jarra da menina sonhadora que despeja todo o sentimentalismo num molho de Margaridas.
Vento. Num repente vem um vento frio, seco que entranha a alma e entorpece os movimentos. Como se os pés estivessem colados ao chão, mas a mente, essa, deambula... deambula freneticamente. Constantemente num turbilhão angustiante. E gira, gira, e olho à volta, e vejo tudo do avesso. Mas quando a agitação acalma, dou-me conta que a janela não está do avesso. O mundo, não está do avesso, não. Porque são os meus olhos que estão a deturpar, pois é mais fácil aceitar que o que tenho diante de mim, apesar de ser uma calamidade, seja real, do que utópica. Ser fruto da minha imaginação fértil. Agito a cabeça, como se quisesse arrancá-la do meu corpo. Como se ela estivesse podre. Como se ela estivesse doente. E está! Assim como o meu corpo está a ficar contaminado. Contaminado pela angustia, pela tristeza que me definha a alma, dia-após-dia... tenho consciência do meu estado de degradação, mas as forças, estão a se esvair, como se de uma ferida enorme se tratasse. E é uma ferida, imensa. Uma ferida que por mais que se ande à volta dela a curar, não cicatriza. E, nas mudanças de tempo, ressente-se. E faz se sentir quando esboço um esgar de dor. Quando contorço o meu corpo para tentar amenizar esta dor, agoniante...
Mantenho-me imóvel na janela. Os meus olhos vivem intensamente todas as mudanças climatéricas. Mas é só isso, vejo. Sinto. De repente, o Sol fica imponente, como quisesse gritar aos quatro ventos que é o senhor do tempo. Altivo, faz-se anunciar com raios quentes. Com a melodia dos pássaros que pousam na árvore vizinha. Fico feliz. Os meus olhos brilham. O meu rosto ilumina-se juntamente com aquela luz natural. As lágrimas, inevitavelmente escorrem pela minha face. Choro... choro... num misto de emoções por contemplar tamanha transformação e por estar ciente que, não mexi um dedo. As mudanças se deram e não precisaram de mim para nada! Senti-me incapaz de reagir a qualquer estimulo vindo de fora. Vindo de dentro de mim. Senti-me inútil. Sinto-me inútil. Fecho a janela exausta. Já não tenho forças sequer de ir para a cama e dar tréguas a este corpo-farrapo. A esta mente poluída de dor. Preciso desligar o botão, mas não consigo ter acesso. E dava tudo para que ao menos conseguisse desligá-lo. Só isso.
isto foi profundo....
ResponderEliminarO sol já espreita little girl =)
Paulinha
Muito profundo!
ResponderEliminarBeijinhos
Gostei**
ResponderEliminarIntenso... muito intenso!
ResponderEliminarbeijo
Sutra
P.S.: "De que vale o Sol brilhar, se lhe fechamos a janela?!"
E viva a vida sentida de uma forma tão profunda. É bom quando é assim, faz-nos sentir vivos de uma forma ou de outra.
ResponderEliminarThe sun always shines back someday :)
Bjs carinhosos xxx
coisas profundas se passam desse lado :O
ResponderEliminarUm beijinho na alma*
olá. como é que te estás a sentir? quanto a mim, apanhei um pouco de chuva na sexta-feira, mas não muito forte e de resto tem estado muito calor. saudades do vento da figueira da foz... beijos e as melhoras. boa semana
ResponderEliminarExtraordinário texto.
ResponderEliminarOh... :( fiquei triste Essência. Um beijinho.
ResponderEliminarQue lindo!
ResponderEliminarHá fases da nossa vida em que o sol deixa de espreitar, e mesmo quando olhamos para o céu e parece que vai aparecer, ele volta a fugir, e a chuva e as nuvéns tomam o seu lugar. São fases que parecem ser infinitas... mas acabam. Um dia acabam. E quando esse dia chegar, tu nem vais dar conta que chegou.
ResponderEliminarSe precisares de falar, eu também já tive dias de muitas chuvas, meses seguidos até.
:) Beijinhos!*
Espero que esteja tudo bem...
ResponderEliminarForça!
Amei o sentimento das palavras
ResponderEliminarmelhoras e melhores dias virao
kis :=)
Um texto introspectivo deambulante e inquieto que se lê sem que nos possamos distanciar dele.
ResponderEliminarUm texto bem construído que nos prende do princípio ao fim.
Beijinhos,
Lindo...
ResponderEliminarE sabes bem que depois das núvens cinzentas vem sempre o sol para nos alegrar!
Miminho / abracinho / beijinho!